Session 707
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Boredom/Lack of Motivation

Topics:

“Maçada/Falta de Motivação”
“Escolhas do tipo Isto ou Aquilo”



Terça-feira, 17 de Outubro de 2000 (Privada/Telefone)

Participantes: Mary (Michael) e Carmen (Tirza)

Tradução: Amadeu Duarte (Excertos)

CARMEN: ...Gostava de te colocar perguntas especificas relativas à depressão, à maçada, à impaciência e à fúria que tenho vindo a sentir com tanta frequência, além de pensar existirem diversos factores que estejam a afectar isso ou a criarem essas sensações…

Já não existe para onde me voltar, nada resta que me interesse…

Ainda que tenha conhecimento intelectual de existirem sempre escolhas que posso empreender, e que me poderão fazer sentir como que valesse a pena sentir deixar-me ficar à espera. Mas emocionalmente, por vezes não consigo sentir isso…

Se me sentir a estagnar sinto-me infeliz e como que morta por dentro. E parte disso… poderá querer dizer que pense não estar a dar prosseguimento ao meu propósito, tanto quanto podia. Mas agora tornou-se frequente, até mesmo quando abordo o facto de fazer algo criativo em termos objectivos, em que sou levada a sentir não ter desejo de o empreender…

ELIAS: … É escolha tua focares-te nessas sensações e procederes à criação da falta de motivação ou de ofereceres a ti própria um estímulo, por assim dizer, por meio da alteração da percepção que tens e da permissão para te moveres para um tipo diferente de direcção.

Nada é bom ou mau. Ambas esses aspectos consistem em escolhas. Mas com o que estás presentemente a criar tu estás a expressar-me conflito e frustração. Por isso, vamos dar atenção à frustração e ao conflito em reconhecimento de que a vontade que manifestas consiste na alteração da tua expressão e não em continuar na direcção que até aqui escolheste…

Antes de mais, Permite-te admitir de forma genuína que, aquilo que estás a sentir, aquilo que estás a criar no teu foco procedeu da ESCOLHA.

Referi recentemente a um outro indivíduo, e vou-to reiterar neste momento, o facto de estares a dar passos no sentido duma compreensão genuína e da aceitação de que tu, de facto, crias a tua realidade.

Mas crias igualmente uma distinção – a determinada altura e em determinados momentos e em relação a certas experiências – a e que apesar de poderes estar a criar a tua realidade, não estares a ESCOLHER criar essa realidade.

Por isso, vou sugerir-te que dirijas a tua atenção para o reconhecimento da escolha, porque não te permitirás a liberdade da escolha naquilo que queres até que tenhas admitido o reconhecimento da escolha do que já estás a criar.

A escolha consiste num termo poderoso para uma acção bastante eficaz, e tu empreendes essa acção a cada instante; e nesse sentido, a cada momento em que te encontras a criar a tua realidade, estás igualmente a ESCOLHER criar a tua realidade do modo que ela está a ser criada.

Por isso, se estiveres a criar maçada, tu terás ESCOLHIDO criar maçada. Se estiveres a criar frustração, se estiveres a criar ausência de motivação, se estiveres a criar ansiedade, estarás a ESCOLHER criar qualquer dessas expressões.

Também posso dizer-te em termos bastante definitivos, não existir qualquer desperdício de energia. Por isso, cada criação que escolhes é propositada. Tu não criaste nenhuma acção nem nenhuma expressão ao acaso nem de forma acidental.

CARMEN: Pois. Portanto, eu não estou meramente a desperdiçar o meu tempo. Quando me sinto assim, eu estou realmente a criar.

ELIAS: Estás a oferecer a ti própria informação. Tu ofereces informação a ti própria O TEMPO TODO.

Agora; permite igualmente que te diga que, relativamente ao facto de ofereceres a ti própria informação, por vezes deixas de prestar atenção a certas vias de transmissão que geralmente ofereces a ti própria. Tu habituaste-te bastante à metodologia, por assim dizer, inerente ao modo como comunicas contigo própria em termos físicos, e com isso, de certa forma, aborreces-te com a familiaridade de tal comunicação endereçada a ti.

Vós utilizais os vossos sentidos – os vossos sentidos exteriores e os interiores – como vias de comunicação endereçada a vós próprios. Utilizais as vossas impressões ou as vossas intuições, as quais traduzis em pensamentos, e isso representa outra via de comunicação. Utilizais a emoção como uma via de comunicação, mas em termos gerais, concebestes as vossas expressões emocionais para serem despoletadas por informação proveniente do exterior. Por isso, passastes a usar as vossas emoções como uma comunicação endereçada a vós próprios do tipo de reacção.

Nesse sentido, podes escolher tomar vias familiares de comunicação para contigo própria, mas dum tipo diferente, um que te atraia a atenção e a retenha.

Geralmente não adoptais esse tipo de acção em relação à expressão da alegria nem do prazer. Geralmente, quando procurais captar a vossa própria atenção, passais a adoptar uma acção ou uma via de comunicação convosco próprios que vos seja desagradável e de que não gosteis.

CARMEN: É! (A rir)

ELIAS: E isso captará e reterá de modo eficiente a vossa atenção.

CARMEN: Com certeza que sim!

ELIAS: Agora; ao criardes uma falta de motivação e uma expressão de frustração e de ansiedade, vós conseguis captar a vossa atenção por meio duma expressão emocional de que não gostais. Mas essa comunicação emocional NÃO é oferecida como uma forma de susceptibilidade ou reacção a um evento exterior. Ao invés, vós estais a criar essa expressão de carácter emocional de modo semelhante àquele com que criais os vossos pensamentos. Mas nessas alturas, tal como tu estás a expressar presentemente, e segundo a concepção que presentemente escolhestes dar à vossa direcção, vós não dais atenção aos pensamentos.

Torna-se bastante fácil pôr de parte os pensamentos. Também é sumamente fácil fazer pouco caso dos pensamentos, porque podeis facilmente passar a identificar-vos em termos depreciativos, e em razão disso colocais um término total nos pensamentos. Por isso, o pensamento revela-se ineficiente a captar a vossa atenção.

Já as expressões emotivas, tornam-se mais difíceis de ignorar. Sois menos versados, por assim dizer, no conhecimento objectivo da manipulação das emoções, e na forma de pôr de lado essas expressões ou de as alterar. Por isso, segundo a avaliação que fazeis, exerceis um menor controlo sobre essas expressões emotivas do que o que exerceis sobre a comunicação que adopta os moldes do pensamento.

CARMEN: Além disso, o pensamento pode comportar a ideia para uma escolha que eu podia elaborar nessa situação, penso eu. Mas acho-me de tal modo presa na emoção que isso, tal como dizes, é acaba por ser ultrapassado. Estarei a entender a questão correctamente?


ELIAS: Correcto, e nisso, muitas vezes ficais bloqueados, na avaliação que fazeis, ou tornais-vos confusos, o que também poderá ser avaliado como um bloqueio.

Nesse sentido, a razão porque criais tal confusão consiste em que, ao prestardes atenção ao comunicado emitido pelas expressões emocionais, nem sempre proporcionais a vós próprios clareza de escolha. E nem sempre existe uma resposta para essa escolha, em termos de “isto ou daquilo”. Já ao dardes atenção aos vossos pensamentos, podeis facilmente expressar para vós próprios escolhas desse tipo (coagidas).



Ao dardes atenção às emoções, muitas vezes podeis experimentar um desafio mesmo no que diz respeito à identificação da própria emoção e à sua definição. Por isso chegais mesmo a experimentar um maior desafio ao tentardes criar uma escolha em relação à emoção, e com isso, voltais-vos para a área familiar da escolha, o que quer necessariamente dizer dar continuidade ou interromper essa continuidade.

Com isso moveis-vos automaticamente para a via de encarar a emoção de que não gostais ou a expressão de que não gostais e de dizer para vós próprios, “A escolha que elejo é no sentido de a eliminar, de a interromper.” Porque encarais como demasiado difícil perceber todas as escolhas que se situam no terreno do “isto ou aquilo” (destituídas de opção).

CARMEN: É; isso vem a tornar-se num desafio porque, caramba, eu proponho a mim própria um número limitado de escolhas. Por ser uma pessoa tão criativa, em muitas situações eu não crio muitas escolhas. Esta é uma área para a qual preciso abrir-me, a de aceitar um mais amplo espectro de escolhas ao invés (da coacção) do claro ou escuro. E eu tendo a aceitar esta hipótese.

ELIAS: Mas isso é conseguido pela aceitação de ti própria, sem te atribuíres condenação nem limitação alguma; Não nas escolhas em si, mas em relação a ti própria.

Nesse sentido, o modo como há-des avançar para um tipo de expressão desses consiste em te permitires tornar mais conhecedora em termos objectivos em relação a ti própria no momento, agora. Em tomares consciência genuína de ti própria no momento, neste instante; não por intermédio dum falso sentido de ti que permaneça consciente do momento por tudo o que ocorre fora de ti própria nesse momento. Isso não é ter consciência de ti própria.

Portanto, ao permitires ocupar-te da tua consciência objectiva em relação a ti própria no momento, também te permites abrir automaticamente à periferia e dessa forma passarás a dispor da percepção de mais escolhas, porque passas a ver mais daquilo que actualmente estás a criar e do que te estás a ocupar…

Vós detendes crenças em muitas situações nas quais percebeis necessitar da criação duma determinada escolha, e de escolher entre isto ou aquilo...

E nesse sentido, aquilo que estás a expressar a ti própria (através das imagens do teu sonho) é a atracção da tua atenção para essa direcção que crias.

Essa direcção – ao continuares a colocar-te na posição de teres que escolher esse modo (isto ou aquilo) – em muitas, muitas situações, cria-te obstáculos e impõe-te limites.

Estás a deixar atrair a tua atenção para essa expressão automática que estás a criar, de poderes permitir-te relaxar o teu foco em resultado do que te abrirás em relação à tua periferia e reconhecerás que muitas das situações não são expressadas de modo eficiente nesse cenário de escolhas coercivas, mas seres capaz de oferecer a ti própria muito mais liberdade ao te permitires relaxar e deixares de escolher entre “isto ou aquilo”…

Nota do tradutor:

Como Elias prossegue nos esclarecimentos na sessão seguinte com esta mesma interlocutora, vale a pena incluir passagens dessa transcrição:

CARMEN: ...Antes de mais, gostava de debater a questão da fúria, da maçada e da depressão que abordamos na nossa última conversa, que eu crio a fim de comunicar comigo própria. E eu penso estar a conseguir alguma coisa, em termos de alterar a percepção que tenho das situações e em termos duma melhor manipulação das minhas emoções, mas ainda procedo à criação destas sensações desagradáveis em certas ocasiões.

Agora, quando consigo isso, acredito que a mensagem que esteja a transmitir a mim própria seja a de estar a ansiar por algo na minha vida que me retenha a atenção dum modo mais agradável e jovial. Já tentei relaxar o foco que exerço e permitir-me pensar em coisas que posso empreender que me façam sentir melhor, e sou acometida por ideias, a maioria das quais tem que ver com pintura, desenho, fotografia ou música, e já gastei algum tempo a ocupar-me dessas coisas mas na sua maioria não me trouxeram a satisfação ou o desafio que me traziam no passado. E quando mais esforço exerço para empreender tais coisas com o objectivo de me fazer sentir melhor, mais vazias essas actividades me parecem.

Bom, não penso estar a questionar os talentos que possuo e a utilizá-los como um bloqueio, porque na verdade penso estar a sentir-me melhor e a ter uma maior fé nas minhas capacidades artísticas do que alguma vez já tive. Mas a pergunta que quero fazer é, quando me sinto aborrecida e desanimada estarei a interpretar mal a mensagem que estou a transmitir a mim própria por não estar a identificar correctamente aquilo que me satisfaça?

ELIAS: Ah, eu posso-te dizer que sim, tens razão. Porque aquilo de que te estás a ocupar é do sinal, o qual consiste na identificação que fazes da sensação e nesse sentido estás parcialmente a permitir-te reconhecer que essa emoção contém uma comunicação, pelo que estás parcialmente a permitir-te explorar aquilo que estás nesse momento a criar e o que essa emoção esteja a comunicar-te; mas estás apenas a interpretar parcialmente essa mensagem.

Agora; exprimo-te uma confirmação do facto de teres avançado para o reconhecimento de que essas expressões emocionais não são reacções mas são, na verdade, comunicações que estás a oferecer a ti própria. Mas isso engloba um sentido de identificação que vos é muito pouco familiar, e por isso deste início a uma prática de ter atenção pelo comunicado, mas nessa prática também não estás a tomar parte nessa comunicação em toda a sua extensão, por assim dizer, porque a direcção do teu movimento em relação à comunicação emocional (ainda) traduz o recurso a uma acção qualquer.

Agora; isso consiste na resposta familiar ao facto de tomares a emoção como uma reacção. Por isso, de certa forma, tu estás, para o referir por palavras vossas, a deslocar-te em parte no sentido duma nova identificação e duma nova definição da emoção, e em parte a continuar a permanecer na identificação e na definição com que te achas familiarizada, as quais te expressam precisamente aquilo que estás a criar no momento.

Agora; ao reconheceres essas emoções como comunicações, tu identificas o sinal e atribuis uma designação a esse sinal ou à sensação, como ansiedade ou inquietação, e com isso, podes então permitir-te reconhecer aquilo que estiveres a comunicar a ti própria relativamente ao que estiveres a criar nesse momento.

Nesse sentido, ao tentares fazer ou criar uma acção em resposta a essa comunicação, muitas vezes – apesar de nem sempre – mas muitas vezes aquilo que estás actualmente a fazer é a voltar-te no sentido da associação da existência de algum elemento da tua realidade que não se ache adequado, nesse momento, e com essa associação voltas-te na direcção de corrigir a situação, por estenderes a associação de não “se achar em ordem” e a tornares numa situação destroçada.

Agora; a primeira associação, nos vossos termos físicos, de que algum elemento da vossa realidade não seja em perfeita ordem, acha-se realmente mais próximo do movimento de reconhecerdes genuinamente aquilo em que essa comunicação consiste. Não que exista algum aspecto do vosso foco que não se ache direito, mas nesse momento criais uma expressão, uma acção e uma associação de negação em vós próprios, e isso é identificado por intermédio do vosso processo de pensamento familiar como a identificação de algum aspecto da vossa realidade que não se ache íntegro, ou se ache à parte.

Agora; ao reconheceres que a emoção consiste NUMA comunicação e deixares de te tornares receptiva à comunicação, também continuas a expressar e a fornecer a ti própria essa mesma comunicação de forma repetida até que recebas a mensagem. Ela pode não encontrar continuidade no modo em que estás constantemente a expressar uma determinada emoção. Pode expressar-se e pode parar de se expressar, para se voltar a expressar num momento subsequente ou numa outra altura, mas continuará a expressar-se na exacta medida em que continuares a deixar de receber a mensagem.

CARMEN: Pois! (A rir) O que me direcciona de modo efectivo no sentido de querer captar a mensagem! (Elias ri)

Agora; eu faço isso o tempo todo e não o quero fazer, mas aí penso... Eu ia projectar aquilo que pensei que ias dizer, mas não me vou permitir faze-lo. Assim, aquilo que penso é que se relaxar o suficiente, será que eventualmente conseguirei captar a mensagem? A outra pergunta é se, sempre que crio estas emoções, a mensagem que estarei a comunicar a mim própria será a mesma.

ELIAS: Muitas vezes tu estás a comunicar uma mensagem bastante similar a ti própria com a repetição dessa comunicação emocional particular.

Agora; isso não representa nenhum absoluto, e por isso não crias nenhum processo de pensamento nem nenhuma associação de que toda a vez que estejas a gerar inquietação ou uma expressão emocional de ansiedade estejas a comunicar a ti própria em termos absolutos a mesma mensagem, porque alturas há em que oferecerás a ti própria comunicados ligeiramente diferentes. Deixa que te diga que a mensagem básica que estás a oferecer a ti própria nessas comunicações emocionais, nos vossos termos, é geralmente a mesma, mas ela assume diferentes expressões.

Agora; permite que te explique que com isso, tu ofereces a ti própria uma expressão emocional. Identificas a emoção e essa emoção comporta uma comunicação. Analisando essa emoção em particular que estás neste momento a debater, essa comunicação consiste na oferta da tua consciência subjectiva para a objectiva de estares no momento a criar uma negação da tua escolha e uma falta de reconhecimento de teres escolha. Por isso, a comunicação está a ser-te expressada no sentido de identificares que, nesse momento, estás a criar uma associação no teu íntimo de não poderes criar aquilo que queres.

Como tu não recebes a mensagem, tentas reprimir e deixar de lado a comunicação emocional por intermédio da acção, como se, entregando-te à tua criatividade, essa expressão emocional possa sofrer uma interrupção, por aquilo que te esteja a comunicar constitua um apelo à acção. Aquilo que te estou a referir é que muitas vezes a comunicação não vos expressa nada que preciseis fazer, mas apenas que vos permitais escutar e dar atenção e reconhecer essa comunicação que vos está a ser endereçada, desse modo permitindo-vos perceber que dispondes de escolha, porque a expressão base de todas as comunicações desse tipo que estás a oferecer a ti própria traduz o facto de estares a negar a ti própria escolha e a expressar para contigo própria, “Eu não consigo”.


Agora; ao reconheceres essa comunicação ela deixa necessariamente de criar uma situação em que devas proceder a uma acção, mas confirmas para ti própria, ao invés, que essa negação da escolha e associação de “Não seres capaz de criar aquilo que queres” não traduz nenhum absoluto e de que dispões doutras escolhas. Mas se não perceberes que aquilo que estiveres a criar seja a negação da escolha, deixarás de oferecer a ti própria qualquer expressão de escolha subsequente.

CARMEN: Certo; de acordo. Bom, sou capaz de prever que isso se vai tornar num desafio que me captará a atenção...

ELIAS: (Ri) Recorda-te, como já ofereceste a ti própria consciência disso, não é que a tua criatividade e a tua expressão de criatividade não te sejam satisfatórias ou que se revelem inadequadas ao tentarem captar a tua atenção, mas é que a tua atenção está a expressar-te uma mensagem diferente. Não é relativa à tua incapacidade ou à capacidade de expressares a tua própria criatividade no que identificareis como modos criativos, mas que não é aí que reside a questão.

CARMEN: Certo (a rir). Se não traduz a questão, nesse caso penso que quando estiver a empreender actividades criativas ainda sentirei a emoção por não ter conseguido captar a questão; ainda deverá a bater-me na cabeça.

ELIAS: Está correcto.

CARMEN: Então é por isso que essas actividades soam a vazio, nessas situações.

ELIAS: Correcto.

CARMEN: Muito bem, bom, tal como disse, isso tornar-se-á algo a que prestarei mais atenção e que estou a procurar fazer avançar mais, porque eu tenho uma preferência em relação a evitar sentimentos desagradáveis e por vezes tenho vindo a criar sensações bastante desagradáveis.

ELIAS: Mas isso oferece-te a oportunidade de examinares as tuas próprias comunicações e de te familiarizares mais contigo, o que consiste numa formidável via de exploração e não na incorporação da maçada.

CARMEN: Sim, é quase como abrir uma imensa porta para o infinito... Na minha vida já fui capaz de ler alguma coisa do Carlos Castaneda e um dos ditados que o Don Juan usava era, “Como poderás sentir-te aborrecido se estás rodeado pela eternidade?” E isso sempre fez repercutir uma corda em mim sempre que me deixo cair no aborrecimento ou passo a dar-lhe lugar. Como poderei eu sentir-me aborrecida, se me encontro rodeada pelo infinito?!

ELIAS: Sim, encontras-te rodeada por ti própria, que és infinita.

CARMEN: Pois, mas caramba, hei-de prolongar-me por eras e mais um infinito a explorar isso. Por isso é apenas uma questão da sensação de poder abrir a porta e permitir que essas coisas entrem, ao invés de as bloquear. Muito bem, penso que se trate duma grande questão na minha vida, neste momento, pelo que a aprecio.

ELIAS: Posso dizer-te existir um imenso movimento nesta altura, através do qual tu e muitos outros, nos vossos termos, estais a abrir essa porta do infinito a fim de criardes uma relação efectiva convosco próprios (com o Eu) e essa acção requer que presteis atenção a vós próprios e vos torneis familiarizados.

E nesse sentido, segundo o modo em que concebestes a vossa realidade física, incorporando o tempo do modo como o concebestes, essa acção de vos familiarizardes convosco próprios e de criardes uma relação convosco próprios incorpora uma acção bastante similar àquela que haveis de oferecer a outro indivíduo se escolherdes criar um relacionamento com ele, e essa expressão consiste no tempo que lhe dedicais para vos familiarizardes com ele e com as suas preferências e crenças e com os passos que dá e as reacções automáticas que concebe e a sua filosofia e muitos dos seus aspectos, como a conduta e as expressões. E como dispondes do tempo linear – já que é esse o sentido que empreendeis na criação da vossa realidade – se não oferecerdes a vós próprios essa expressão de dispor de tempo para vos familiarizardes com todos os vossos aspectos e todas as expressões e as próprias comunicações que ofereceis a vós próprios, como havereis de criar um relacionamento convosco?

CARMEN: Pois, pois. Muito bem, muito obrigado.

ELIAS: Não tens de quê.

CARMEN: A pergunta seguinte ainda tem que ver com as emoções, penso eu. Faz já algum tempo que venho a criar e a atrair situações no emprego em que os meus clientes me parecem extremamente stressados, além de desorganizados, em termos convencionais. O problema está em eu me deixar afectar emocionalmente por isso, por vezes num grau extremo. Bom, eu continuo no modo como escolho ganhar a vida por sentir que seja eficiente para mim, além de também tomar consciência de estar a comunicar comigo própria quando crio isso e me permitir ser emocionalmente afectada.

Mas queria verificar isso contigo, o facto de acreditar estar a atrair estes clientes stressantes – os quais, pelo menos na minha óptica parecem stressantes – por eu ter, antes de mais, uma tendência generalizada para me sentir responsável por tornar as vidas dos outros mais suaves ou mais fáceis, e em segundo lugar por não acreditar merecer clientes mais calmos ou com mais consideração.

Agora, estarei certa quanto a essas serem as crenças-chave que me estejam a criar essas situações? Estou a pensar numa mulher que tenho como cliente em particular cuja energia me parece extremamente caótica, mas isso tem vindo a acontecer com todos os meus clientes, pelo que não se limita apenas à relação que tenho com ela.

ELIAS: Dir-te-ei, uma vez mais, que estás a oferecer a ti própria uma identificação parcial do que estás a criar. Aquilo que não estás a ver é que - sim, tens razão, tu atrais-te esses indivíduos a ti, mas aquilo que eles estão a expressar é o oferecimento dum reflexo de ti.

Estás a voltar a tua atenção no sentido do exterior para esses indivíduos e a permitir-te uma associação parcial com aquilo que estás a apresentar a ti própria, de identificares certas crenças que abrigas como estando-te a influenciar essa criação, mas tu não reconheces que esses indivíduos estão todos a criar um reflexo de modo a seres capaz de perceber a tua expressão de forma similar. A expressão objectiva pode diferir…

CARMEN: Pois.

ELIAS: …Mas subjacente a isso, tu atrais esses indivíduos a ti de modo a seres capaz de perceber o reflexo de ti própria por meio deles. E isso oferece-te informação referente a ti e ao que estás a criar no teu íntimo, e a confusão, e por vezes o caos que TU experimentas, o qual pode expressar-se de muitas e objectivas formas; mas no teu íntimo, acha-se bastante relacionado a essa expressão de ansiedade que tu ofereces a ti própria e à tua experiência de aborrecimento e inquietação.

O aborrecimento não significa inactividade. O aborrecimento, uma vez mais, consiste na negação a vós próprios de escolha, porque o aborrecimento é uma expressão que é criada na vossa realidade nessas alturas em que não ofereceis escolha a vós próprios.

CARMEN: Muito bem, e essas escolhas podem não envolver necessariamente fazer nada, mas apenas uma mudança da percepção a fim de alterar um estado emocional?

ELIAS: Não para alterar um estado emocional, (1) porque não é um estado de ser relativo à emoção. A emoção traduz uma comunicação; por isso vós não participais num “estado” emocional. Essa é uma definição incorrecta. Vós criais emoções como comunicações a fim de identificardes aquilo que estiverdes a criar nesses momentos.

Agora; aquilo que criais nessa expressão da maçada é uma momentânea incapacidade para escolherdes. Não que não tenhais escolhas, mas uma negação ou depreciação da vossa própria capacidade de escolher.


CARMEN: Pois, eu vou ler e voltar a ler e praticar isso porque me soa a novidade. Não que me seja completamente novo...Penso que terás dito que me encontro a direccionar no sentido da prática, no que diz respeito a isto.

ELIAS: Correcto. E nesse sentido, alguns aspectos deste debate poderão objectivamente ser identificados em ti como novidade, por assim dizer, mas tal como referi, tu já começaste a mover-te nessa direcção, e por isso existem alguns aspectos desta informação que já consegues reconhecer e em relação aos quais deténs alguma compreensão.

Deixa que te diga, minha amiga, que muitas vezes, por intermédio da experiência do reconhecimento da maçada, tu, do mesmo modo que outros, reconheces possuíres escolhas. Podes até mesmo chegar a apresentar a ti própria muitas expressões diferentes de escolha objectiva. Aquilo que não estás a reconhecer é que crias essa expressão da maçada em relação à associação que estabeleces nesse momento de não deténs a capacidade de escolher uma das tuas escolhas, e isso é frustrante... # 775

Nota do tradutor:

Esta passagem, deveras interessante, é passível de soar algo obscura ao leitor da língua Portuguesa, se não dispuser dum certo quadro referencial que lhe permita um maior à-vontade na identificação dos cenários aqui apresentados.

Essencialmente o que Elias aqui sugere é que é um logro pensarmos, como repetidas vezes tendemos a fazer, nas situações emocionais (e não só) como num trampolim para resultados que se enquadrem num contexto do contrário do experimentado, coisa que se revela francamente num fracasso, porque não conseguimos eliminar esses “estados” nem utilizá-los para arquitectar cenários opostos, porque eles muito simplesmente não encaixam nem têm a função de criar outra coisa, e tudo o que precisamos fazer é abrir mão dessa ambivalência e “escolher”, ou seja, abrir mão dessa condição com base na percepção ( ou acção, conforme Elias refere) de que isso não pode gerar o produto do pretendido em tal situação (ou seja, o contrário) mas está, ao invés, a sugerir toda uma projecção baseada na fuga e na incompreensão de algo que e é coeso e íntegro em si, a despeito de parecer fragmentado!

Perceber é agir! Em tal princípio assenta igualmente a natureza das escolhas a que procedemos, com base no acento subjectivo que damos ao conteúdo.

Posso citar, a título de exemplo, a situação análoga da oração que utilizam todos quantos se inclinam a uma abordagem francamente baseada numa fé mais ou menos cega e numa atitude de oposição ao emprego do discernimento e da racionalidade, com a expectativa de transformarem conteúdos ou situações que assentam numa percepção distorcida e fragmentada somente na percepção que é sustentada.






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