Session 2883
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The Key, Part 2: Support by Acknowledging, Not Opposing

Topics:

“Instinto de Sobrevivência da Consciência do Corpo”
“O Perigo da Tendência Automática para Corrigir”



Novembro de 2009
Participantes: Rose e Mary (Michael)
Tradução: Amadeu Duarte

Elias: Boa tarde.

Rose: Bom dia, Elias. (ri) Como tens passado?

Elias: Como sempre.

Rose: (riso) Como sempre, eu sabia que ias dizer isso. Sinto-me bastante feliz por esta oportunidade de voltar a conversar contigo. Sinto-me deveras contente. Obrigado. (riso) Muito bem, vamos directo ao assunto, como sempre. No Domingo passado tivemos que parar ou fomos interrompidos devido a problemas técnicos que surgiram na altura em que comecei a falar sobre este corpo paraplégico e agora desejava prosseguir.

Elias: Muito bem.

Rose: Okay, o que gostaria de perguntar em primeiro lugar, para o colocar em poucas palavras, é se o facto de me encontrar paralizada constitui uma crença.

Elias: Não completamente. Deixa que explique. Isso acha-se envolto em certos aspectos de crenças, mas a afectação física em si mesma não traduz uma crença. Exactamente como no caso dum indivíduo que quebra um osso, o facto dele ter quebrado o osso não traduz crença alguma. O osso permanece quebrado.

Rose: Pois.

Elias: Em seguida isso torna-se numa manifestação física. Ou se um indivíduo gera um tipo qualquer de enfermidade, essa enfermidade torna-se numa manifestação física e não numa crença. Mas existem crenças associadas a essa condição.

Rose: Para mim isso faz todo o sentido.

Elias: Pois.

Rose: Não faria a menor diferença que me sentasse aqui horas a fio a dizer que não acredito estar paralisada, “não estou paralisada, não estou paralisada” sempre a repetir o mesmo. Isso seria uma idiotice. (riso)

Elias: Eu concordo. Porque se trata duma manifestação física e as manifestações são bastante reais, a despeito das razões que as motivam, sem que o que fizerdes com elas ou a crença que a motiva tenham a menor importância. Elas são bastante reais.

Rose: Pois.

Elias: O facto é que há crenças que as pessoas atribuem às manifestações físicas em grau variável, mas a manifestação constitui uma manifestação efectiva e real.

Rose: Sim, estou de acordo. Muito bem. Agora gostava de voltar à questão seguinte. As imagens (simbólicas) inerentes a esta lesão e a sua localização na espinha, eu conheço a história de alguém que sofreu uma queda livre do céu, no decurso duma falha na abertura do pára-quedas, e que acabou por fazer uma queda duns três ou quatro quilómetros tendo chegado ao solo sem um arranhão. E eu só caí uns quatro metros e com efeito tencionava quebrar o pescoço, mas tudo o que consegui foi quebrar a décima segunda vértebra, uma vértebra localizada à altura do peito. Uma vértebra mais abaixo e eu seria capaz de me locomover e de fazer tudo o mais. Por isso estou a pensar se se tratará duma localização e duma ocorrência precisas, e gostaria de compreender ou de saber se será necessário compreender se existirá alguma informação importante que isso encerre, ou se tal informação será útil para a alteração da minha condição e para restabelecer a cura.

Elias: Muito bem. Na verdade este é um assunto interessante porque também se acha associado a acções que as pessoas empreendem ao darem abrigo à ideia de cometerem suicídio. E essa é a razão porque, muitas vezes essa acção não chega efectivamente a conseguir o suicídio de forma bem sucedida. Porque as pessoas não chagam a confiar o suficiente na resiliência da consciência do corpo e na sua função de preservação da existência.

O que quero dizer, portanto, é que existem muitas alturas em que as pessoas subestimam o poder da consciência do corpo, no sentido de ser capaz de garantir uma continuidade no caso de lhe causarem danos.

Bom, tens razão: no caso em que um indivíduo gera algum tipo de afectação na consciência do corpo ao causar-lhe dano, a forma como lhe causa dano acha-se muitíssimo associada à atitude e ao que está a experimentar, e acha-se um tanto associado com a realização individual de sentido de valor que obtém. Apesar de poder não gostar disso existem muitas acções que a cada um empreende na sua vida de que poderá não gostar mas isso não quer dizer que não faça parte da sua realização de sentido de valor.

Nesse contexto, entendo a orientação que tomas e a tua vontade de teres sensações. Mas como já foi debatido, esse aspecto envolve crenças e o vigor de que elas se acham imbuídas, e isso pode tornar-se num desafio porque as crenças são fortes e não são uma expressão que possa facilmente ser posta de parte, além de, como já ficou claro, as crenças não são alteradas. Podeis alterar a interacção que tendes com elas, mas elas por si só não se alteram.

Nesse sentido, isso dá igualmente lugar à criação dum outro factor de desafio; sempre que tentais dar atenção a certas crenças que são bastante vigorosas e procurais alterar certos aspectos da vossa realidade objectiva relativos a essas crenças, isso pode tornar-se difícil.

Agora, em associação com essa afectação em particular, que tu geraste ao danificares essa área específica da tua espinha em que ainda geras alguma função mas em que outra função passou a deixar de se gerar, nesse sentido provocaste uma lesão, mas não uma lesão que seja, por assim dizer, essencial. E isso, em relação à tua existência na realidade física, porque preservas determinados aspectos da tua manifestação física que te são muito importantes. E tu lesionaste certos aspectos dessa tua manifestação física que não eram assim TÃO importantes. Mas isso constitui igualmente um factor significativo por ser um exemplo de certos aspectos da percepção que são bastante comuns e todo o indivíduo incorpora aspectos da percepção em que certas expressões ou manifestações que vos são bastante familiares se tornam menos importantes.

Bom, entende que quando refiro não se tratar do caso de certas funções físicas não serem dotadas de tal importância mas é que a maioria dos indivíduos está de tal modo acostumada e familiarizada com certas funções que não lhes dá muita importância até ver a sua função interrompida por qualquer tipo de acção. Assim como certas partes da vossa consciência do corpo, ou as vossas pernas, os vossos pés, a acção de caminhar. As pessoas geralmente não prestam atenção ao funcionamento das suas costas ou dos seus órgãos a menos que eles comecem a causar dor ou a menos que qualquer dessas funções da consciência do corpo sofra uma interrupção ou se torne difícil. Quando isso ocorre, essas funções passam a tornar-se importantes.

Rose: Isso está associado às imagens. Compreendo que a consciência do meu corpo me tenha assegurado a sobrevivência e que não tenha morrido. Tornou-se óbvio que uma parte de mim pretendia sobreviver mas eu gostava de saber de que forma isso estará relacionado com o que sucedeu antes da minha decisão de efectivamente me atirar daquela janela.

Preciso falar um pouco sobre isso. Gerou-se aquele caso com aquele indivíduo por quem me enamorei, o reencontro e todo aquele andar para a frente e para trás: “Deverei ir viver com ele? Abandono, ou não, a minha família?” Já debatemos isso em várias sessões e eu fiquei bastante surpreendida por não teres feito a menor referência a isso quando te perguntei a razão porque toda a coisa se terá dado. Mas saíste-te com a história do Robert, que se tornou bastante interessante; todavia o que quero saber... Quando tomei essa decisão de me lançar da janela, sentindo-me como se não me restasse mais nenhum recurso, ou saída de emergência, e senti um extremo pavor em relação a determinados passos, pelo que preferi não acatar nenhum. Foi uma aglutinação total; não foi isto nem aquilo mas tudo ao mesmo tempo, o que me levou a sentir completamente oprimida e a querer salvar-me e a ver-me livre daquilo, mas além disso, como sabes, foi a minha família, e eu fiquei sem saber de que modo prosseguir, literalmente como continuar. E acabei por ficar com as pernas impossibilitadas.

Isso é algo em que venho a pensar com frequência, se existirá aqui alguma espécie de ligação. Se existirá algo que pudesse dizer tratar-se dum simbolismo. E que terei que fazer para ousar sentir-me bem, sentir-me livre o suficiente, e isso, para continuar a caminhar de novo, a partir do meu íntimo? Tipo mudar as crenças e isto e mais aquilo, de modo que isso se traduza na consciência do meu corpo e eu conquiste a capacidade de caminhar de novo em resultado da transferência disso para o movimento? Poderás falar sobre isso, por favor?

Elias: Muito bem. Eu não fiz referência a esses outros indivíduos envolvidos por isso não ser TÃO importante quanto a tua família, nem o relacionamento que interpretas com os indivíduos que compõem a tua família, a acção recíproca que incorporas com isso.

Além disso, o facto de teres escolhido essa acção em particular, e orientação e manifestação, a fim de continuares a relacionar-te com a tua família. De certa forma o tipo de lesão que instauraste constitui um tipo de metáfora. Tu não te atiraste somente duma janela. O que tentaste foi atirar janela fora partes de ti que eram difíceis, aflitivas, confusas, paralisantes, e que te não concediam qualquer concessão pessoal.

Ora bem; “Porquê esse determinado local?” referiste tu. Porquê esse aspecto físico teu em particular? Porque não mais acima ou mais abaixo? Mas, em relação ao que estavas a fazer nessa determinada altura isso torna-se bastante compreensível, porque essa particular localização acha-se associada ao centro de energia laranja.

Estou ciente de que te terá parecido achar-se associado ao amarelo, mas dir-te-ei que a maioria tem a ideia do centro de energia amarelo como não sendo tão grande, por assim dizer, quanto os outros centros de energia, mas eles são todos iguais.

Bom; com isto, torna-se compreensível que cries a associação que pudesses ter criado uma acção que viesse a afectar esse centro de energia em particular e pudesse desprender a consciência do corpo das qualidades – não da energia – mas das qualidades da energia desse centro energético particular.

Bom, entende que podes desligar alguns aspectos dum centro de energia que isso não os desliga completamente. Não interrompe o centro de energia em questão e apenas altera o modo como a consciência do corpo interage com ele e lhe passa a reagir, e por isso, no teu caso, a consciência do teu corpo encontra-se a não reagir a ele em certas qualidades.

Agora, no que diz respeito ao centro de energia laranja, ele constitui a sede, por assim dizer, da sexualidade, e como estarás inteirada, a sexualidade pode expressar-se de muitas formas diferentes e assumir variados tipos de manifestação. Mas quando a sexualidade se torna um aspecto significativo dum conflito formidável e passa a gerar uma energia perturbadora e frustrante, e confusão, não é pouco habitual as pessoas criarem algum tipo de manifestação física a fim de deterem isso, ou o desviarem noutra direcção.

Direi que a escolha que terás escolhido constituiu um extremo. Mas diria igualmente, tal como o fiz anteriormente, que o que quer que façais em termos físicos, em relação à consciência do corpo, se adequa a qualquer tipo de energia que vos acheis a empreender, que por sua vez propicia isso. Por isso, apesar de reconhecer que, o que terás levado a cabo na alteração ou danificação física da consciência do teu corpo, ter constituído um extremo, também te digo que o que estavas a criar antes dessa acção também constituiu um extremo.
E uma forma de opressão.

Por isso, a manifestação física combina com o que estava a ser expressado em termos de energia, de um modo diferente. Agora, no sentido desse dano causado a esse aspecto particular da tua consciência do corpo, que te afectou a faculdade de te locomoveres, para além de outras funções, também constitui parte da separação desse centro de energia nas suas qualidades, ou em relação a algumas das suas qualidades em relação à própria consciência actual do corpo.

Nessa interrupção e quase – não inteiramente, mas quase – rompimento da interacção, por assim dizer, com a tua expressão da sexualidade. Bom, como estarás ciente, isso não se rompeu completamente mas ocasionou uma alteração significativa. E um dos factores dessa alteração, que terá servido o seu propósito o suficiente até então, é que alterou de modo bastante efectivo o rumo do interesse que passaste a ter no âmbito do que fosse exterior à tua família; o que diria ter-se tornado bastante eficaz. Mas tal como referi, isso não elimina esse centro de energia nem desliga as suas qualidades todas ou funções e por isso continuas a ter consciência e a criar certos aspectos da tua própria sexualidade e a forma como te associas com ela, até mesmo em certos aspectos físicos, só que duma forma bastante diferente da anterior.

Também te digo que - uma vez que isso foi identificado - isso pertence ao passado. Actualmente não te encontras necessariamente a batalhar com essa confusão em particular, nem com a frustração nem com o desafio. Não te encontras mais a criar esse tipo de situação nem de manifestação ou de energia. Por isso, o sentido e a situação são, agora, diferentes. Além disso, a forma como expressas determinadas crenças é, agora, distinta. Não que as crenças sejam diferentes nem que se tenham alterado mas é que tu encetas diferentes tipos de influência da sua parte actualmente, como antes não fazias, o que te terá permitido uma maior flexibilidade e um maior à-vontade, de determinada forma, um menor juízo crítico, uma condenação consideravelmente menor de ti própria que, por isso, cria toda uma situação diversa por intermédio da qual a atenção ao que terá antecedido o acto da manifestação dificultada deixou de ser importante e terá deixado de ser tão importante.

Essa é a razão porque, apesar de estares correcta, terás inicialmente tomado esse rumo e te terás expressado como o fizeste previamente, e eu não me referi necessariamente a isso por actualmente te encontrares numa configuração diferente. O modo como abordas essas crenças é diferente. Por isso não tem necessariamente aplicação nem precisas voltar ao que fizeste no caso anterior. Tu já o fizeste.

Rose: Umm hmm. Quero perguntar uma coisa.

Elias: Sim.

Rose: Porque razão se terá tornado tão impraticável chegar a pensar em termos razoáveis de novo? Eu achava-me de tal modo convencida de estar certa quando... Assim como também pensava ter destruído a vida da minha filha, e que tinha feito tudo mal e que ela viria a ter uma vida terrível por bla bla bla e não era capaz de me livrar desse pensar, e antes pelo contrário, aquilo estava a tornar-se cada vez pior. Porque razão não terei sido capaz de deter aquele tipo compulsivo de pensar e o que se seguiu?

Elias: Isso, uma vez mais, apesar de ter representado um extremo na tua situação, é, sob diferentes aspectos, uma situação bastante comum para a maioria. É uma questão da força das associações que influenciam críticas bastante fortes e uma falta de informação.

Rose: Sim, mas mesmo quando alguém do exterior vinha e dizia: “Olha, vê bem, isso não é verdade”, e mesmo se a minha filha viesse e dissesse: “Isso não é verdade... Tu estás a pensar à toa; estás completamente por fora”, porque razão isso não me entrou na minha... Porque terei pensado daquele modo e me terei convencido tanto de que os outros não seriam capazes de ver o que eu era capaz de ver e me parecia horrível, e porque razão não terei encontrado a chave para sair disso?

Elias: Porque não importa que fontes externas vos possam expressar informação ou que os outros possam expressar diferenças de percepção. Tu enquanto indivíduo geras uma tal intensidade de juízo crítico em relação a ti própria que o que os outros possam expressar não tem importância. E isso não é pouco habitual.

Rose: Eu sei mas, Elias, tem que haver uma saída para isso. Quero dizer...

Elias: Mas existe sim.

Rose: Qual será?

Elias: Cada um de vós descobris o vosso modo de sair disso, por assim dizer, e geralmente recorreis a métodos extremos. Escolheis métodos que se equiparam à intensidade do juízo crítico a fim de romperdes esse juízo e de que isso permita alterar a percepção que tendes. E em termos gerais, quando um indivíduo como tu atinge um tal extremo de juízo crítico e se vê consumido pela auto-depreciação e pela desvalorização pessoal, geralmente o indivíduo requer de si próprio algum tipo extremado de acção que rompa essa concentração, e essa acção não é uma acção que seja venha do exterior, mas somente uma que possais vós próprios instaurar. E não importa o que os outros expressem nem o que pensem nem que percebam que isso não tenha importância.

Porque nessas situações imperam dois factores bastante significativos. Uma é que o indivíduo se terá convencido da depreciação pessoal que faz e da desvalorização que começa a avançar em termos de expressões antagónicas e o juízo crítico é de tal modo intenso que o indivíduo acredita... Mas lembra-te de que acreditar não é o mesmo que abrigar crenças...

Mas o indivíduo acredita de modo vigoroso, nessa altura, na expressão que emite em termos de desvalorização pessoal... Mas, que coisa representará o acreditar? Acreditar é ter confiança. Por isso o indivíduo confia de modo tão absoluto nos termos claro e escuro das situações que o que possa ocorrer ao seu redor deixa de ter importância. Porque, quando outra pessoa refere, “Isso não está certo, isso não é verdade, tu não és isso que percebes. Eu não te vejo desse modo,” o modo como isso é recebido pelo outro vai no sentido do completo reforço do que já está a expressar.

Porque, quando o outro refere: “Isso não é verdade, não é assim que eu te vejo”, tu imediatamente e em relação à depreciação que fazes, passas para uma expressão duma, e para a da tua própria independência; “Eu conheço-me e sei aquilo que estou a dizer, sei o que fiz, sei o que estou a fazer, sei o que sinto. E tu não.”

Por isso, o aspecto da independência torna-se demasiado forte a despeito do facto da pessoa se sentir vítima e desamparada ou não, e esse aspecto da independência permanece bastante vigoroso.

Elias: E a adicionar a isso, existe um outro aspecto da independência que se expressa duma forma rebuscada, só que bastante realista: “Não importa o que fizeres ou disseres porque tu não sabes, enquanto que eu sei. E nesse âmbito, quanto mais expressares o contrário do que estou a expressar, mais isso me motiva a expressá-lo.

Rose: Exactamente.

Elias: “Porque agora estás a desvalorizar-me. Não estás a aceitar aquilo que estou a referir em termos reais. Estás a rejeitá-lo.”

Rose: Sim, eu estava tão convencida que, mesmo que pudesse observar-me, de me achar num terreno tão acidentado... Achava-me tão convencida disso que na verdade procurei convencer os demais. Ao mesmo tempo que procurava esconder o nível de convicção que tinha, o meu nível de convencimento próprio por ter receio que alguém viesse e pudesse dizer: “Está bem; isso agora é tão desvairado que temos que a tratar com choques eléctricos ou algo assim. Era uma coisa bastante estranha de se vivenciar.

Elias: Eu compreendo-te inteiramente porque quando outro indivíduo te aborda e te diz: “Não, tu não estás errado; não, tu não és tão péssimo; isso não é verdade; eu sinto apreço por ti”, aquilo que fazes, o modo como recebes isso é sob a forma duma desvalorização total do que estás a experimentar e que acaba por o vir a reforçar. Mas é igualmente bastante comum e compreensível que exista o outro aspecto em que te aches desesperadamente a procurar convencer os outros da realidade do que percebes e do que sentes, e te não queiras ver rejeitada nem desejes ver essa percepção depreciada ao mesmo tempo de deixas de pretender admitir o monstro que estás a ser. Porque se os outros genuinamente virem o monstro que és, isso pode tornar-se bastante perigoso.

Rose: Exactamente.

Elias: Contudo, existe um aspecto de ti que tenta com idêntico desespero esconder isso e tornar-se secreto em relação a isso por te sentires envergonhada e desvalorizada e diminuída. Mas o outro aspecto de ti própria que consiste na essência também está desolado e procura contactar-te a tentar romper essa independência, a tentar estreitar a ligação e a tentar expressar essa autenticidade natural, e descartar e desvalorizar. Por isso, ambas as partes estão em desacordo uma com a outra – tu estás em desacordo contigo, o que dá lugar à situação que te leva a sentir não teres escolha nem solução, não te restar nenhuma acção que possas empreender que te vá alterar a situação de uma forma que a corrija, e te permita mover no sentido da liberdade.

Essa carga de desvalorização é uma carga de culpabilidade e aí a justificativa da culpabilização torna-se numa carga de tal modo pesada e opressiva que o que fazes é gerar algum acto extremado no único sentido em que concebes poderes deter isso. E numa altura dessas o indivíduo não faz nenhuma ideia nem concebe nenhuma outra direcção em que possa alterar a coisa noutro sentido. Tudo aquilo porque se preocupa é por parar.

Rose: Certo.

Elias: E, por isso, tu geraste uma acção que foi extremada e suficientemente forte para interromperes e deteres o que estás a fazer. Uma suficientemente extremada que te terá colocado numa posição em que tudo o que sucedeu antes e tudo o que desvalorizavas antes se torna no que é importante.

Porque agora terás dado lugar a uma situação a que deves dar imediata atenção, e agora a situação engloba um assunto completamente diferente, e esse assunto requer da tua parte uma muito mais completa atenção. Essa é a acção, apesar de poder ser extremada, de interromper acções e direcções que são destrutivas e que são bastante desconfortáveis para uma pessoa.

Mas deixa igualmente que te diga que, mesmo no acto de desfazer a pessoa entreteve, muito menos, mas continua a entreter a energia e a ideia de que aquilo que expressava anteriormente se justificava e era válido e real, e por isso não terá desaparecido mas o indivíduo preservá-lo-á com a intenção de o revisitar, só que temporariamente surgem outras situações a que terá que dar atenção, e o aspecto significativo da coisa é que o acto de interromper, por si só, se torna suficiente a despeito da intenção que o indivíduo tem de revisitar essa justificativa para se desvalorizar, a interrupção é suficiente para o distrair em relação a isso e permitir-lhe começar a passar para uma nova direcção, como tu própria evidenciaste. Isso foi precisamente o que tu criaste. Essa depreciação esmagadora, devastadora, esa desvalorização justificada de ti própria, a situação em termos de claro e de escuro, a ausência de escolha, o desespero por desconheceres objectivamente algum outro modo ou rumo no sentido de alterares isso.

(Dá-se uma interrupção na ligação telefónica)

Elias: Continuemos.

Rose: Obrigado.

Elias: Estou ciente de que compreendes o que te tenho estado a dizer.

Rose: Compreendo.

Elias: E de que, a despeito dessa direcção e do que quer que fosse, isso não se acha na direcção que agora tomas.

Rose: Isso é uma pergunta?

Elias: É. Compreendes isso? Que apesar de ser interessante e de algum modo reconfortante compreenderes o que terá criado a situação, não é necessariamente aí que reside a questão? Por não ser o que actualmente te encontras a empreender...

Rose: Sim, estou de acordo.

Elias: ...Não estás a expressar esse derrotismo. Não estás a expressar esse derrotismo nem a expressar essa intensidade. Não te estás a desvalorizar nem a gerar uma expressão de vitimização, pelo que não se aplica necessariamente à actualidade.

Rose: Certo. Mas é bom entender. Também é bom partilhar com aqueles que lidam com situações similares, para além de ser outra razão porque terei querido conhecê-la de modo tão detalhado.

Elias: Sim, e eu concordaria em que essa é uma situação bastante comum em que muitos são levados a sentir-se encurralados e sentem não dispor de escolha, pelo que se vêem numa posição em que parece não existir mais nenhuma escolha, para além da paragem.

Rose: Pois, para mim, eu estou para aqui sentada... Por um lado, como que excitada e a transbordar de energia e imparável, e por outro, como num alçapão muito fundo e sem energia nenhuma e entristecida com tudo isto. Lembro-me, quando me encontrava nessa altura, de não ter descoberto nenhum meio de saída ou chave, e de ter andado desesperadamente em busca dela. E deparo-me que se debate e corre em busca duma chave e aqueles que os tentam ajudar com todo o tipo de coisa como medicamentos e aconselhamento e tudo o mais, sem que qualquer das partes esteja na posse dessa chave. E o que sinto fazer despedaçar mais o coração é que seja preciso o tal extremo para se possibilitar tal volte-face.

Elias: Eu entendo o que estás a dizer e manifesto-te reconhecimento por isso, mas esse é um dos imensos desafios relacionados com as crenças com que todos estareis familiarizados e porque não encontra mais cabimento e razão porque esta mudança é tão importante. E um dos mais significativos factores neste tipo de situação não é apenas o indivíduo que está a experimentar tal extremo de desespero e de aflição mas também os outros, em torno dele. Porque a direcção que tomam constitui uma parte da acção recíproca que é muito significativa.

Elias: Porque a direcção que tomam geralmente é a da tentativa familiar de corrigir a situação. Por mais que o indivíduo que está a desvalorizar-se e a sentir-se desesperado tente convencer os demais em relação à realidade do que sente, os outros equiparam a sua energia e procuram convencer o indivíduo afectado a corrigi-la. E isso vais instaurar um círculo bastante difícil e perigoso. È por essa razão que se torna tão importante que as pessoas compreendam e tomem consciência e dêem atenção ao que fazem, especialmente em situações em que a sua intenção e aquilo que pretendem é prestar auxílio. Porque no geral e na maioria das vezes, o meio por intermédio do qual procuram ajudar é não ajudando mas reforçar efectivamente e encorajar o próprio desespero que visam corrigir.

Por isso se torna bastante importante que as pessoas reconheçam que o modo pelo qual a solução-chave se torna perceptível... Quando aquele que se desvaloriza de modo tão desesperado o faz numa tentativa de procurar convencer os outros quanto à realidade disso... A despeito do quanto ele também possa estar a esconder, o que está a fazer é a projectar que visa estabelecer o contacto. Está a tentar captar o sentido da chave. Já a conhece e já tem consciência objectiva de estar a exagerar de tal modo, vê-se de tal modo preso na sua armadilha que não é capaz de dar com essa chave sozinho.

Por isso refere medidas de alcance e com isso, o que é de todo importante é que isso se acha interligado e é uma actuação recíproca. E que os outros tenham consciência de si e das suas prioridades e das direcções que tomam, assim como do que as motiva. E que tenham consciência de não estarem a empreender o rumo da correcção e que ao invés criem um apoio genuíno que passe pelo apreço pelo indivíduo.

Dir-te-ei em termos bastante definitivos e literais que, sempre que um indivíduo se expressa do modo que o fizeste, se os outros sentirão apreço por isso.

Quando exprimes: “Eu sou uma péssima mãe e já cometi tantos erros e maldades que me sinto tão culpada”. Se o outro tiver suficiente consciência de si e não se preocupar em se defender nem estabelecer as suas prioridades, e apenas se permitir estender e sentir apreço pela interligação de tudo isso, ele poderá proporcionar-te essa chave: “Eis aqui a chave; tu deténs essa chave. Não sou eu quem ta dá, tu já a possuis. Só não és capaz de o perceber. Muito bem; eu iluminar-te-ei isso de modo que possas perceber, já que tu deténs a chave. Eu compreendo que não consigas percebê-lo.”

Quando exprimes: “Eu sou uma péssima pessoa, uma péssima mãe”, em vez do outro indivíduo responder: “Não, não és, és uma boa mãe. Não devias sentir-te culpada”, ele poderá compreender não serem expressões de auxílio mas de reforço, expressões que vão reforçar esse negrume. Se em vez disso ele expressar: “Eu compreendo, sim, isso é bastante real” sem se opor a ti nem se defender – a tua resposta inicialmente há-de ser de falta de à-vontade isso já tu estarás a sentir. A tua reacção inicial será de desconforto devido a que o teu aspecto secreto e que se esconde esteja a receber permissão para se expor e isso gere desconforto.

Mas literalmente e em simultâneo com o facto do desconforto também se gera libertação, porque isso vai permitir parar, devido a que o outro esteja de acordo convosco, pelo que desnecessário será que continueis a forçar. Estareis a obter apreço. Por isso essa acção é duvidosa e vós nessa posição de trevas da depressão sois muito rapidamente levados a reconhecer isso e começais a desconstruir.

Isso é, minha querida amiga, a derradeira importância da razão porque estás a partilhar e do quanto incrivelmente significativo se torna que cada um preste genuína atenção ao que faz. Eu compreendo que as intenções sejam as melhores. Entendo que na opinião que abrigais as vossas intenções sejam boas, mas quanto mal não advém das boas intenções! Isso não tem mais cabimento na vossa realidade. Vós estais a redefinir a vossa realidade e esse é um dos seus aspectos mais significativos. E as pessoas ainda não compreendem inteiramente o quanto esse seu aspecto em particular é importante.

Quando um indivíduo procura reconfortar sem reconhecer a realidade da experiência dos outros, isso não traz conforto nenhum e refere não só um reforço como um encorajamento porque o outro continua a forçar e a batalhar. Não estou a dizer que isso seja inadmissível ou que não vos seja natural incorporardes os vossos próprios princípios, as vossas próprias opiniões e preferências. Essas são muito naturais e bastante aceitáveis. Quando um indivíduo se deprecia a si próprio de forma tão formidável sem que concordeis, torna-se completamente admissível o facto de não o aceitardes. E é inteiramente admissível que incorporeis a vossa própria percepção e a vossa própria opinião em relação ao que o outro estiver a exprimir. Mas são opiniões e preferências e princípios vossos, são os vossos rumos e não podem ajudar o outro na sua expressão.

Rose: Exactamente.

Elias: É importante reconhecer que não importa o quanto a situação em que qualquer pessoa se possa ver tenha de desolador ou de obscuro. A chave de que falas está sempre nas vossas mãos e sempre ao vosso alcance. Mas torna-se-vos mais difícil de ver se tudo o que for expressado ao vosso redor vá em reforço dessas trevas e não é capaz ao menos de fazer tremeluzir uma luz de vela quando a procurais alcançar.

Mas nisso, minha amiga, em enorme apreço por ti, tu tens conhecimento desse tipo de experiências e possuis uma enorme compaixão. E cada vez mais fazes uso da compreensão em relação à importância de prestares atenção e de detectares a tua própria expressão e a tua própria motivação. Estou ciente de que tu e eu nos vamos encontrar de novo em breve, não é?

Rose: É, amanhã.

Elias: Vamos continuar a nossa conversa em relação ao teu movimento actual.

Rose: Muito obrigado.

Elias: Expresso-te, como sempre, com genuína sinceridade, um formidável encorajamento e apreço pelo sucesso nos passos que deste, mas seguir-se-á mais.

Rose: Bom, está bem. Muito obrigado.

Elias: Não tens de quê, minha querida amiga. Envio-te um grande encorajamento.






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