Children: Making the 'Right' Choices for Them
Topics:
"Crianças: Estabelecer as Escolhas “Acertadas” Para Elas"
"Alterar a Percepção do Tempo"
Terça-feira, 9 de Julho de 2002 (Privada/Telefone)
Participantes: Mary (Michael) e Laura (Belagia)
Tradução: Amadeu Duarte
ELIAS: Bom dia!
LAURA: Bom dia, Elias.
ELIAS: (Dá umas risadas) De que modo iremos prosseguir?
LAURA: Bom, eu passei um bom bocado na conversa com a Mary, e penso que ela já tenha respondido às minhas perguntas essenciais! (Ambos riem) Tivemos uma boa conversa sobre viver no momento e estebelecer escolhas. E eu continuo presa na ideia de estabelecer escolhas acertadas, mas ela assegurou-me de que as escolhas que promovo em qualquer altura SÃO as escolhas acertadas para essa altura. (Elias ri) É realmente agradável. Sou uma pessoa que adora a ideia dos absolutos e que sente vontade de fazer as coisas de modo acertado. Representará isso o perfeccionismo Sumafi?
ELIAS: Representa.
LAURA: Também queria conversar sobre algumas coisas divertidas.
Uma das ideias que tenho, é o meu filho ser digamos, pouco convencional num monte de aspectos, pelo que temos que lidar com isso. Ele tem necessidade de se assumir pelo que sente ser. Sente necessidade de estabelecer as próprias decisões e de levar a vida por que sente prazer.
Ao mesmo tempo, temos umas quantas coisas convencionais em andamento. Eu ando com ele para a frente a para trás com a questão da escola. É Verão, mas por vezes precisamos tomar decisões respeitantes ao futuro, mesmo nesta altura. Para que escola deverá ir, e se continuará a ir para a escola privada, se passará a ir para a pública, esse tipo de coisas.
E ele não quer aprender matemática nem aprender a ler, neste momento. Ele está com cerca de oito anos, e eu interrogo-me se de facto ele deverá estabelecer essa escolha de não precisar ler nem aprender a subtraír nem a somar? É sobre esse tipo de coisa que eu me interrogo.
ELIAS: Deixa que te diga que o que estás a fazer é a gerar uma confusão no teu íntimo, por estares a projectar a atenção no outro indivíduo, no teu filho.
LAURA: Sem dúvida! Estou a projectar bastante a minha atenção nele!
ELIAS: E a preocupar-te com as escolhas dele ao invés de te preocupares com as tuas escolhas.
LAURA: É aí que a confusão que sinto reside, um dos aspectos dela. Estou certa de haver mais aspectos com que me sinto confusa. De certa forma, eu podia ver que ele é capaz de avançar e quando tiver, digamos, 13 anos, ele decidirá: “Pois, quero aprender matemática por sentir vontade de aprender,” ou “Quero aprender a ler por sentir vontade de saber.” Compreendo tratar-se duma opção que se pode tomar na vida.
Ao mesmo tempo, a minha escolha quererá dizer a escolha relativa à resposta que dê às escolhas dele, ou a escolha que defina para ele, a qual deveria ser a de ele aprender a ler e a fazer matemática neste momento? Quando falamos relativamente à minha escolha, o que creio que estejas a referir como a minha escolha é a da resposta que dou às escolhas dele.
ELIAS: Não! Não a escolha que faças em relação às escolhas do outro indivíduo – quais são as TUAS opções? Lembra-te de que, TU crias toda a tua realidade, mesmo a dos outros que participam na tua realidade. Cada aspecto da tua realidade que percebes objectivamente, tu terás criado por meio da tua percepção.
LAURA: Podemos escutar isso e lê-lo um milhar de vezes! (Ri) Já ao nível prático do dia-a-dia, torna-se bem difícil captar o seu sentido.
ELIAS: Eu compreendo. Por isso, aquilo com que estás directamente a interagir é a projecção de energia desse indivíduo que percebes como teu filho.
Bom; nisso, não importa o que o outro esteja a escolher ou a produzir ou a criar nem a percepção que tenha. O que é significativo é que TU escolhas, prestes atenção a ti e reconheças aquilo que Tu queres, e como tal, que cries isso.
Isso – jamais o poderei enfatizar o suficiente – é chave, e de facto fisicamente responde pela criação da vossa realidade, porque é a percepção que vos cria a realidade, mesmo quando associada a outros indivíduos. Prestar atenção a ti e permitir-te expressar livremente aquilo que TU queres cria essa realidade.
Agora; a tua realidade e a realidade dele podem diferir.
LAURA: Poderei interromper para colocar uma pergunta?
ELIAS: Á vontade.
LAURA: Eu estou a criar o Zane na minha própria realidade. Nesse caso, todas as questões relacionadas com a busca do que seja verdadeiro para ele e do tipo de mãe que lhe permita ser ele próprio e que o aceite tal qual ele é, esse tipo de questões são insignificantes por eu criar a realidade dele.
ELIAS: Exacto! Tu não o “admites”.
LAURA: Penso que o que queira dizer é não o inibir. Eu utilizei o termo errado, tens razão. “Permitir” ainda procede da minha parte. O ideal da mãe que defendo não lhe inibiria a expressão criativa.
ELIAS: Mas tu não crias a realidade dele. Por isso, não podes inibi-lo.
LAURA: Então se tomar uma decisão, e ele for para essa escola particular e a decisão que eu tomar nesse altura... imaginemos um futuro cenário em que ele esteja na segunda classe e ele tenha uma tarefa de matemática. A decisão que eu tomo nesse momento é, “Sim, precisas sentar-te a esta mesa e preencher esta folha de problemas de adição. Depois podes fazer o que quiseres.” E ele disser, “Bem, eu não tenho vontade de os fazer, não quero sentar-me a essa mesa a fazer os deveres de matemática. Eu jamais quererei fazer esses problemas de matemática.” Se eu estabelecer nesse momento a escolha: “Tu vais fazer os deveres de matemática”, aí não o terei inibido de modo algum.
ELIAS: Exacto, por ser escolha dele dar lugar ou não à inibição. Isso não é uma escolha que te caiba a ti fazer.
LAURA: Então se finalmente ele os fizer, ele terá escolhido fazê-los.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Mas terei eu ditado a realidade na vez dele? Essa é a questão que coloco. Não estou, por o estar a criar na minha experiência.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Ena, que difícil que é entender isso! (Ri)
ELIAS: E se o outro indivíduo não escolher ser complacente, ele não será.
LAURA: Bom, isso é garantido! (Ri)
ELIAS: Mas nisso...
LAURA: Eu produzo aquelas brigas pela manhã, como no caso da minha filha e de a forçar a calçar os sapatos ou ter que lavar os dentes. Eu dou lugar a brigas dessas.
ELIAS: Exacto. Esses tipos de cenários, no final de contas, não terão genuinamente importância nenhuma, por as teres produzido. Na realidade contemporânea da vossa dimensão física, podes gerar uma experiência ao interagires com outro indivíduo, o teu filho ou a tua filha, e a percepção que eles tenham pode diferenciar-se completamente.
LAURA: Bom, quero dizer, o que estou a criar para mim própria são duas crianças que são verdadeiramente felizes e adoram as vidas que têm. Ao mesmo tempo, entretemos estas brigas que representam igualmente brigas comigo própria, porque, conforme estava a dizer à Mary, à maioria das pessoas nesta Terra nem sequer ocorreria a questão de o nosso filho ter que calçar os sapatos para podermos ir à biblioteca. É óbvio que precisa calçá-los! Mas eu brigo com isso por não querer impor-lhes a realidade deles nem as escolhas deles.
ELIAS: Eu estou a entender, mas isso serve como um exemplo claro da projecção da tua atenção fora de ti e de manteres a tua atenção no outro indivíduo e de te preocupares com as escolhas dele, em razão do que tentas moldar-te por aquilo que especulas seja a percepção que ele tenha ou ao que queres que a percepção que ele tenha de ti corresponda.
LAURA: Ah, aí reside a chave! Eu diria tratar-se dum problema predominante que tenho em relação a todo o meu viver, essa preocupação com a percepção que os outros têm de mim.
ELIAS: Exacto, mas isso É essencial, porque aquilo que projectares há-de ser aquilo que criarás. Por isso, tu continuas a produzir esta expressão de preocupação pessoal com as percepções dos outros, mas negas a ti própria prestar atenção ao que a tua percepção comporta.
LAURA: Então, se eu aceitar estar a criar completamente a realidade do Zane e da Cyan por intermédio da minha percepção, ou seja, por exemplo, eu aceito-me completamente a mim própria ao dizer, “É altura de escovares os teus dentes”, e ao aceitar completamente tratar-se dum pedido absolutamente razoável e corresponder à minha escolha, então não resultará conflito em torno da questão de escovar os dentes a menos que eu crie tal conflito?
ELIAS: Exacto!
LAURA: Ena pá! Isso é tão difícil de captar. Não existe mesmo mais ninguém.
ELIAS: TU estás a produzir esses conflitos porque...
LAURA: Caramba! Sinto como se estivesse a balançar nos limites da aceitação disso.
ELIAS: Estás a gerar uma expressão de expectativa em relação a ti própria pelo que reflectes isso no exterior através da criação de conflito.
LAURA: Por ESTAR em conflito com o facto de lhes pedir que façam alguma coisa.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Sinto conflito com qualquer pedido para fazerem seja o que for!
ELIAS: Exacto, por te preocupares com expressões que te são exteriores e não prestares atenção a ti própria.
Reverte a situação, ainda que hipoteticamente. Que será que experimentarás se outro indivíduo estiver continuamente focado em ti e a preocupar-se com as escolhas que elegeres e com o que desejares?
LAURA: Caramba! “Deixa-me em paz!”
ELIAS: Exacto. Isso não é uma preferência, e além disso produz uma desvalorização pessoal, não será?
LAURA: É.
ELIAS: Mas tu não gostas disso. Do mesmo modo, isso é o que tu estás a criar com esse tipo de expressão, ao focares a tua atenção no exterior e a situares nos catraios, deixando de prestar atenção a ti. De forma semelhante, isso provoca conflito, por gerar conflito no teu íntimo e como tal tu passares a reflecti-lo no exterior, sendo que o que produzes é isso precisamente.
LAURA: Vou colocar uma questão óbvia, mas só por precisar vê-la confirmada. Não tenho uma condição adequada para... Com hei-de formular isto? Portanto, aqui estou eu a pensar precisar tomar decisões acerca da escola que eles devem frequentar ou se deverão mesmo ir para uma escola, sem que isso tenha qualquer importância.
ELIAS: Exacto.
LAURA: E a aceitação que revelem, dessas decisões, na minha própria experiência, de facto não tem nada que ver com eles.
ELIAS: Exacto, por isso depender da escolha deles.
LAURA: Caramba! Bem, nesse caso deixa de resultar qualquer conflito.
ELIAS: Para além daquele que tu estabeleces. Mas nisso reside a intenção, em te familiarizares contigo própria expandindo desse modo a consciência que tens e reconhecendo objectivamente o que crias e o modo como o fazes. Isso é conseguido voltando a tua atenção para ti, o que de facto te altera a realidade, facto esse que é evidenciado por manifestações físicas reais. Não estou a falar em termos figurados mas em termos bastante literais.
LAURA: Eu entendo. Eu estava a contar à Mary acerca da experiência que tive há quatro anos. Eu não tinha responsabilidades. Não tinha emprego, os garotos não andavam na escola, eu não tinha entrevistas nem responsabilidades externas para além de cozinhar e de comer e de limpar e de tomar conta dos filhos nesses termos concretos. Essas eram as escolhas que eu elegi para esse fim.
Eu tinha formulado a escolha de ser muito diligente a cada instante, e consegui-o durante uns quantos dias. Depois caí no... penso que nesta linha de expressão precisaria dizer que estabeleci a escolha de permanecer em cada instante durante as seis semanas seguintes, de viver completamente no momento. Foi o que me pareceu a mim. A minha memória diz-me que era isso que estava a acontecer nessa altura. Tinha tanto à-vontade e graça e tranquilidade que era quase como se não conseguisse pensar noutro momento. Se me ocorresse um pensamento, ele não apresentava o menor interesse para além daquele do momento presente. Só me lembro de que na altura não vivenciava o menor conflito.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Mas depois saí desse estado, o que resultou numa experiência bastante dolorosa, uma experiência emocional bastante dolorosa, abandonar esse estado. Podia sentir-me a distanciar-me da permanência que tinha no momento. Foi verdadeiramente doloroso e eu chorei durante um certo número de dias por causa disso.
Penso que a razão porque terei trazido isto à baila seja a de querer ver – quero dizer, já o confirmei – só queria ver o que terias a dizer em relação a isso. A todo o instante, durante essas duas semanas eu elegia a escolha de permanecer no exacto momento.
ELIAS: Exacto.
LAURA: E a determinada altura elegi sair desse estado.
ELIAS: Correcto, e ofereceste a ti própria um exemplo e a experiência duma liberdade genuína.
LAURA: Era uma liberdade total e absoluta, e era tão simples. Tinha que ver com experiências tão simples e ordinárias que ocorriam a cada instante...
ELIAS: Exacto.
LAURA: ...lavar pratos, dobrar as roupas, ler livros no sofá com os garotos, saltar nos charcos. Coisas absolutamente ordinárias e ao mesmo tempo as derradeiras experiências, experiências fundamentais da minha vida, de certo modo, por serem as mais verazes e directas, digo eu.
ELIAS: Estou a compreender.
LAURA: E eu tinha momentos assim. Passava imensos períodos de tempo a manter os meus problemas imaginários em lume brando. Mas aí acordava e recordava: “Oh, espera lá! Tem que ver com o momento presente.” (Elias ri) Mas jamais tinha tido - em nenhuma outra altura da minha vida, desde que me lembro - essa vivência sucessiva do momento prolongado durante um período de tempo como esse.
ELIAS: Mas tu propuseste-te essa experiência a fim de provares a ti própria que isso é possível, e que incorporas o potencial de produzires esse tipo de expressão, que não é impossível.
LAURA: Sim, não é impossível.
Bom, deixa que te pergunte. Essa é uma das coisas divertidas. Eu arranjei para mim própria um caso moderado de varicela há algumas semanas, e estava a contar à Mary... de modo a ter uma desculpa legítima para não ir trabalhar durante umas semanas. Eu fiquei com a casa tão organizada, e depois descobri essa forma de manter a minha casa tão limpa e organizada como jamais tinha estado. Disponho de tanto tempo para fazer as coisas de que gosto e que me trazem contentamento. Ao mesmo tempo, as minhas responsabilidades permanecem as mesmas que antes. Sinto que isso está para lá da situação em que se consegue classificar estes passos por que passei para chegar aqui, como estes dez passos que nos deixam a vida organizada de modo a dispormos de mais tempo. Está para além disso. Penso que terei mudado a percepção que tinha do tempo, de certo modo.
ELIAS: Mudaste.
LAURA: És capaz de me validar isso.
ELIAS: Sim.
LAURA: Eu disponho de tanto tempo. Sempre pensei que adoraria tocar piano e flauta de novo, e gostaria de ler todos estes livros: Disponho de tanto tempo que é como se me tivesse cansado de ler! (Ri) Continuo com as mesmas responsabilidades e a minha casa ficou limpa! (Elias ri) Não o entendo mas estou a divertir-me e a adorar, só por uma questão de gozo!
ELIAS: E não te terás surpreendido uma vez mais?
LAURA: Eu volto-me para esta casa todas as noites e não encontro nada que precise fazer! Todas as responsabilidades que escolhera se acham satisfeitas, e eu disponho de horas livres a fio!
ELIAS: E permites-te apreciar a qualidade fantástica que encerras e das tuas escolhas e da tua eficiência em meio à eleição de tais escolhas. (Ri)
LAURA: Então foi a minha percepção que mudou.
ELIAS: Foi!
LAURA: Eu tenho que estar sempre a confirmar isto. Mesmo como uma experiência directa que tive, ainda assim situa-se tanto para além do domínio do que parece possível. Mas aqui está; está mesmo aqui.
ELIAS: Vós alterais a percepção que tendes e alterais a vossa realidade física actual.
LAURA: Está completamente alterada.
ELIAS: Isso é o que te estou a dizer.
LAURA: Bem, soa como um estouro de tão divertido que é!
ELIAS: Mas isso é um exemplo físico duma prova da realidade desse movimento. Ao alterares ou mudares a tua percepção, tu também mudas a tua realidade física.
LAURA: Por qualquer razão, no caso dos meus filhos torna-se a coisa mais difícil. Já os identifiquei de um modo particular. Mas no caso dos outros, eu entendo – digamos, com o meu marido – de certo modo eu entendo que crio a percepção que tenho dele. Nós estávamos a olhar ao redor da casa e a comentar: “Oh, isto sabe tão bem! Oh, eu sei! Isto sabe tão bem!” E agora percebo que ele ajuda nas lides da casa de modos que não ajudava antes. Antes, sentia abrigar este ressentimento e sentia que ele me estava a atrapalhar os esforços que fazia para me tornar organizada. Agora, com total ausência de esforço, tudo é feito sem que resulte qualquer conflito.
De seguida disse, “Que pensas de eu trabalhar apenas um dia por semana, a realizar um pouco de dinheiro, e aprender Espanhol, tocar flauta, e piano, e manter a casa limpa? Que pensas em relação a esse modo de vida para mim?” E ele respondeu: “Penso que isso é formidável!” (Elias dá uma risada enquanto a Laura ri) Ao que respondi, “Bom, tudo bem. Aceito ter criado isso!” Eu criei essa escolha para mim própria.
ELIAS: Exacto! Permitir-te alterar a percepção que tens, permitir-te escutar as comunicações que partilhas contigo própria e produzir aquilo que queres em associação com as tuas preferências na realidade altera-te a realidade. Tu ofereceste a ti própria uma evidência desse conceito, ao torná-lo numa realidade actual, e agora podes incorporar essa evidência como um exemplo para ti própria do modo como também podes produzir isso em associação com os pequenos.
LAURA: Esta experiência directa do modo como alterei o meu relacionamento com o tempo ou com a minha realidade temporal e com o à-vontade na realidade do meu lar...
ELIAS: E a interacção que tens com o teu companheiro.
LAURA:...com o meu marido, e uso isso como um ponto de referência...
ELIAS: Exacto.
LAURA:...para a interacção que exerço com as crianças.
ELIAS: Correcto.
LAURA: Vou passar para as áreas de conflito; não é que tenhamos conflito todos os dias. Não é de todo o que acontece. Temos muitos momentos de alegria e eu só quero usar o meu tempo de modo sensato e passar a essas áreas de conflito quando as premissas que abrigo não se situam necessariamente onde as quero.
ELIAS: Estou a compreender.
LAURA: Haverá alguma outra informação que me queiras dar acerca desta área, por esta altura?
ELIAS: Isto pode ser suficiente para assimilares no presente momento. Apenas tem presente para notares as alturas em que estejas a projectar a tua atenção, e permite-te voltá-la para ti. Consequentemente, isso também há-de ajudar-te a alterar a percepção que tens.
LAURA: Então, agora quero abordar as coisas divertidas!
ELIAS: (Ri) Muito bem!
LAURA: Eu tinha marcado uma sessão com a Mary há cerca de um mês atrás. Ela sentia-se bastante exausta de todas as viagens pelo que a sessão não chegou a ocorrer mas tudo bem. Penso que terá resultado bem desse modo.
Notei que tenho andado a tocar muito piano, desde que agora passei a criar de todo este tempo para mim própria, e tenho tocado muito Beethoven. Depois duma semana ou duas a tocar Beethoven, durante uma hora ou duas por dia, comecei a rir, por tomar consciência que estava a comunicar contigo fosse lá como fosse...
ELIAS: Exacto!
LAURA: ...por intermédio da música. (Elias ri)
Antes de me encontrar contigo de um modo oficial, eu tocava um monte de peças que faziam muito sentido para mim, sentido intransmissível por palavras, suponho. Quando era adolescente eu era muito dramática de certo modo, e eu sinto que quando estava a ser dramática eu estava a ter um relacionamento com os compositores. Isso será válido ou não passará se imaginação?
ELIAS: Ah! A imaginação é bastante válida, por constituir um modo de comunicação. Posso-te dizer que a tua experiência é igualmente válida, por te teres permitido interagir com expressões de energia desses compositores – como quem diz, os depósitos de energia – e por isso ofereceste-te um tipo de mistura de energias. Isso é o que definiste como a criação dum relacionamento com cada um desses compositores.
LAURA: Há muito tempo que sinto a presença duma outra essência... não sei se falar sobre piano seria tão divertido. Tenho sentido muito amor a conflito em torno dessa questão. Talvez fosse altamente útil, se não pelo menos divertido, eu falar sobre isso. Mas sinto existir um outro foco da minha essência a que chamo o Homem do Piano. Existirá assim um...? Esse é o nome que lhe atribuo, o Homem do Piano.
ELIAS: Sim, tu incorporas um outro foco que empreende essa actividade, não em associação com a fama, por assim dizer, mas que exibe esse instrumento publicamente.
LAURA: Ele é altamente auto-crítico e toca?
ELIAS: Por vezes.
LAURA: Também eu sou, por vezes. (Elias ri) geralmente sou uma pessoa com confiança, diante do público. A minha persona da actuação em público é uma de confiança. Quer a minha experiência interior seja de confiança ou não, não importa verdadeiramente, porque as pessoas pensam em mim como uma pessoa confiante. É do que estou exactamente agora a falar. Sou capaz de orar em público; quando era jovem actuava em peças de teatro; fui mesmo capaz de tocar flauta em frente das pessoas. Mas o piano, isso odeio em absoluto tocar em frente a outras pessoas. Eu começo mesmo a tremer, o que não é pouco habitual na minha experiência. Mas não sou necessariamente uma pessoa que entre em estado de ansiedade extrema, em público.
Por isso, eu tenho–me interrogado se isso não terá que ver com este relacionamento, deste outro meu foco comigo, se isso não estará a ter lugar entre nós. O que realmente quero é entender isso de forma mais aprofundada.
ELIAS: Estou a compreender. Posso-te dizer que não, isso não é uma expressão dum efeito indesejável a trespassar associado a esse foco. O que estás a gerar é uma comparação de ti própria com esse foco. O que estás a gerar é uma comparação da tua pessoa em associação com os relacionamentos de energia que criaste previamente com compositores, e consequentemente isso gera desaprovação da tua pessoa em comparação com esses indivíduos que percebes serem mestres dessa expressão particular da criatividade. Por isso, tu estás a desprezar-te.
LAURA: Estabeleço estes critérios elevados.
ELIAS: Exacto.
LAURA: O virtuosismo é o único meio de fazer face a esse critério.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Mas a realidade não tem que ver com a virtuosidade.
ELIAS: Exacto, e pode ser solucionada pelo reconhecimento da comparação que tu crias, a qual produz essa expressão de perfeccionismo e esses extremos que designas como modelos de critério, por assim dizer, e também te inibe a interacção natural que tens com o instrumento, por não permitires expressar descontracção para acompanhares o instrumento em harmonia nem produzir um fluxo livre de energia da tua expressão e da tua criatividade em relação a esse instrumento. Tu poderás, uma vez mais, surpreender-te ou impressionar-te com a expressão de criatividade que terás associada a esse instrumento se te permitires relaxar e fluir com a energia e expressar-te sem limites.
Estás a gerar uma comparação e uma expectativa de teres que tocar esse instrumento do mesmo modo que os compositores o tocavam. Mas a expressão deles era a expressão deles, e a tua criatividade é a tua criatividade. Por isso, o que enfatizas com uma passagem ou com um acorde ou mesmo com uma nota pode diferir da expressão que tenham utilizado, mas pode ser estupendo se te permitires esse fluir da energia.
LAURA: Isto é engraçado de referir, suponho, mas quando me sinto descontraída e estou simplesmente a tocar, adoro a minha própria expressão. Já no caso dos erros tendo a criticar-me a mim própria, por os meus dedos não alcançarem as notas devidas...
ELIAS: Exacto.
LAURA:...o tempo todo. Quando tenho consciência duma certa passagem que se aproxima que é particularmente difícil segundo a percepção que tenho, fico tensa, de modo que a alegria se esvai e aí a mente crítica ocupa o lugar dela. Isso torna muito mais duro de chegar ao fim dessa passagem difícil.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Consequentemente, a coisa termina nesta alegria absoluta, assim como nesta profunda consternação. Não tenho confiança em mim nessas passagens, e é aí que entra o aspecto de não ter vontade de tocar diante dos outros.
ELIAS: Exacto, e com a preocupação com a percepção dos outros, por já estares a gerar uma condenação e expectativas em relação a ti própria. Por isso, preocupas-te com as percepções dos outros, por eles usarem dum julgamento incontornável e uma expectativa em relação ao teu desempenho. E é precisamente isso o que passas a criar, por corresponder ao que estás a criar no teu íntimo e como tal, haverás de o reflectir no exterior.
Mas também proporcionas a ti própria um reconhecimento objectivo do facto de que, nas alturas em que te permites relaxar, geras um livre fluxo e geras prazer na interacção que tens com o instrumento. É nos momentos em que começas a gerar expectativas e a criticar o teu desempenho e a compará-lo que começas a gerar tensão, e deixas de te permitir a jovialidade ou a expressão de apreciação pessoal.
LAURA: Então, quando me sento ao piano a praticar, mais importante do que escalas e harpejos será tomar consciência dos meus pensamentos e dos meus sentimentos e da experiência interior que gero enquanto toco.
ELIAS: É. Move-te em harmonia com o instrumento, não necessariamente os teus pensamentos mas sentir a tua energia e o modo como se move em harmonia com o que produzes nessa música. Se o teu dedo se desviar para outra tecla que percebas seja a errada, permite-te apenas aceitá-lo e continuar.
Na verdade isso pode tornar-se num exercício interessante de empregar, o de prestares atenção a ti própria e à tua expressão em relação à associação que estabeleces das escolhas correctas, com o que, te permitirás a liberdade de te expressaes. Se os teus dedos utilizarem notas que não figurem na composição original, não tem importância. Não é errado; é uma mera acção. Irás desprezar a totalidade da experiência num dado momento de prazer e de apreço por uma única nota que não pré-figurava? (Sorri)
LAURA: Nos últimos trinta tal anos, eu continuo a voltar a ele, pelo que tem que comportar alegria para me fazer continuar. (Elias sorri)
Tenho sentido muito interesse pela França ultimamente e tenho consciência dum foco que tenho lá. Questionei-te brevemente certa vez acerca dela, uma prostituta no século 19 em França. Terei algumas outras?
ELIAS: Que impressão colhes? Que investigaste?
LAURA: Acredito haver mais, mas na verdade não consigo lidar com isso ou captá-lo.
ELIAS: Ah, mas podes sim! (Sorri)
LAURA: Aqueles sobre os quais te indaguei até ao momento surgiram-me por acaso. Um outro é como que estar a aconselhar-lhe ou a aconselhá-la pelas esquinas, mas não tenho muita certeza. Terá isso alguma coisa que ver contigo, estando tu em França? Teremos algum outro tipo de relações para além desta, noutro tempo e noutro local?
ELIAS: Temos.
LAURA: Eu terei algum relacionamento com algum foco teu em França?
ELIAS: Tens. Não nessa altura, apesar de se dar um breve encontro nesse foco entre nós os dois. Mas tu incorporas outros focos nesse país em particular nos quais tens mais interacção com focos meus do que tens nesse.
LAURA: Em França.
ELIAS: Sim.
LAURA: Quando li outras transcrições sobre outras pessoas que conversam contigo ou conversaram contigo e eles te perguntam sobre as relações que tiveram contigo em França, sinto uma ressonância. Contudo, desvalorizo isso como um pensamento baseado no desejo ou então demasiado conveniente ou lá o que for que as minhas ideias revelem. Mas eu queria usar de veracidade em relação a esse impulso original, que é o de que existe uma relação. E o que me estás a dizer é que é verdade. Mas creio não ter investigado o suficiente para descobrir se alguma coisa realmente me surge acerca do que tal relacionamento comporta.
ELIAS: Isso é o que eu te estou a dizer, que a interacção foi breve, mas que tu incorporas uma interacção e um conhecimento objectivo da minha pessoa nesse foco.
LAURA: O do século 19.
ELIAS: Sim. Existem muitos, neste fórum, que participam nesse foco particular.
LAURA: Eu vou investigar isso mais a fundo, nesse caso. Existe aquele nos começos do século 19, mas existem outros em que temos mais interacção.
ELIAS: Sim.
LAURA: Queres dar-me mais alguma informação em relação a esses? (Elias ri) Ou queres que eu investigue? (A rir)
ELIAS: Investiga um em Barcelona, e podes investigar outro no Peru.
LAURA: Será esse um em que eu era um Índio Inca?
ELIAS: É.
LAURA: Esse foi muito poderoso. Será por isso que sinto vontade de aprender Espanhol, ou me terei matriculado numa escola de Espanhol?
ELIAS: Esse influencia bastante, sim.
LAURA: Eu terei alguns focos famosos?
ELIAS: Tens – mas tu podes investigar e escutar as impressões que obténs e praticar!
LAURA: Posso-te adiantar uma impressão?
ELIAS: Podes.
LAURA: A de um escritor?
ELIAS: Exacto.
LAURA: No feminino?
ELIAS: Exacto.
LAURA: Deste século – não do presente século, porque nos encontramos noutro século – do século passado, do século 20.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Anais Nin?
ELIAS: Essência observadora, sim.
LAURA: Então isso significará que não sou a Anais Nin.
ELIAS: És...
LAURA: Estou a tentar recordar a definição que dás às essência que observam. Um aspecto da minha essência incorporado à essência dela, e eu a participar na experiência dela desse modo.
ELIAS: Sim, mas ao longo de todo o foco dela. Geralmente as essências podem ser um foco em observação mas durante um tempo parcial desse foco da atenção e da sua manifestação. Por vezes, uma essência observa durante o tempo todo de manifestação desse foco, o que gera uma experiência idêntica à da essência que dirige. Consequentemente...
LAURA: Então, em certo sentido, a Anais Nin teve duas essências?
ELIAS: Não, uma. Só que a essência que observa, ao obter expressão durante todo esse foco da atenção, pode estar associada, por assim dizer, a uma produção ou adopção desse foco, por se permitir tomar parte ao longo de todo esse foco na sua manifestação e na experiência de toda essa manifestação.
LAURA: Terei eu um foco que se relacione ou tenha algo que ver com a Anne Frank?
ELIAS: Sim. Relacionada – posso-te dizer que é na qualidade de irmã. (Pausa)
LAURA: Como essência que dirige.
ELIAS: Sim.
LAURA: Mais alguns focos famosos? (Pausa)
ELIAS: Três.
LAURA: Alguma pista?
ELIAS: Proponho-te o local físico de um e a época, e poderás investigar os restantes: a localidade que designais por China, século três.
LAURA: Deixa-me cá pensar na época. Terá algo que ver com o Budismo?
ELIAS: Com a realeza.
LAURA: O nosso tempo está mesmo a terminar. Penso que ainda disporemos de mais dois ou três minutos e isto está a ser divertido! (Ri, enquanto o Elias sorri) Isso da Anais Nin é interessante. Ela vive em França.
ELIAS: Sim.
LAURA: Terá ela interagido contigo? Não, tu já te tinhas separado do físico, por essa altura. (Elias ri) Não tiveste mais focos após o período de vida do Oscar Wilde.
ELIAS: Exacto. (Ri)
LAURA: Estou a tentar prosseguir com isto! (Elias ri) Ela morreu em Los Angeles. Ela estava a viver lá, e eu não suporto Los Angeles. Assim, penso que isso seja interessante.
Só mais uma pergunta, talvez duas. Quantos focos da essência terei nesta época? Vou-te dizer o que penso. Penso que tenho cinco...
ELIAS: Exacto.
LAURA: ...incluindo este meu.
ELIAS: Exacto.
LAURA: Eu investigo mais. Também estava a pensar no nome da essência da minha filha. (Pausa)
ELIAS: Nina.
...
LAURA: Sempre senti conflito em relação ao seu nome, Cyan, e ela também tem fases em que gosta e não gosta dele. terás algo a dizer acerca disso?
ELIAS: Vós gerastes a escolha. Posso-te dizer não ser pouco frequente para aquele foco que entra, expressar alguma insatisfação com o nome físico que recebe durante algum tempo, porque o foco que o precede geralmente escolhe esse nome. Por isso, não é inusual que a tua filha possa incorporar alguma insatisfação temporária com tal escolha. Que é que te preocupa nessa escolha?
LAURA: Estás a perguntar-me a mim?
ELIAS: Estou.
LAURA: Diria que soa como não tendo nada que ver com ela.
ELIAS: Eu digo-te que esse é ainda um outro exemplo do que estivemos a debater ao longo da interacção de hoje, acerca de projectares a tua atenção no outro e assumires a percepção dele e atribuíres julgamento ou desaprovação a ti própria e em relação às escolhas que eleges. A adopção desse nome particular foi escolha tua. Mas percebes que ela se sente insatisfeita com ele, e consequentemente desvalorizas a escolha que fizeste. (A Laura ri)
Geralmente, as pessoas na vossa dimensão física geram insatisfação apenas temporária em associação com a nomeação física. Posso referir...
LAURA: Agora que falaste nisso, eu própria fazia isso quando era criança.
ELIAS: Se uma essência ou um foco particular duma essência genuinamente pretende escolher um nome físico, ela fá-lo-á, e vós haveis de tomar consciência disso.
LAURA: Mas ela tem-se sentido insatisfeita com ele, pelo que sempre digo, “Bom, nesse caso escolhe um nome diferente!” Para mim não tem importância. Se ela quiser ter um nome diferente, tudo bem.
Não é um nome invulgar, e eu sempre notei que ela o escolhia e foi por essa razão que isso me veio à mente.
ELIAS: Aqueles que escolhem os próprios nomes, segundo a concepção que fazeis, não expressam tal insatisfação. São, conforme reconhecerás, uma excepção à regra, por assim dizer, por não se sentirem insatisfeitos com o próprio nome físico ao longo de todo o seu foco.
LAURA: Bastante o que assimilar e processar para hoje!
ELIAS: (Ri) Muito bem, minha amiga. Fico na antecipação do nosso próximo encontro e dum relato dos progressos que alcançares. Lembra-te de te divertires.
Expresso-te, como sempre, o meu tremendo afecto. Para ti, neste dia, au revoir.
LAURA: Au revoir.
Notas do tradutor:
A concessão de permissão e de atenção são componentes que respondem pela edificação do sentido de responsabilidade das crianças e dos jovens. Essa responsabilidade assume um considerável peso na formação e no desenvolvimento da auto-consciência, se alicerçada na auto-estima e no valor próprio, que são gerados com base numa aceitação criativa e inquiridora da experiência dos “erros” e das “falhas”.
É comum os pais e educadores confundirem o sentido de auto-consciência e de responsabilidade com o ajustamento aos padrões exigidos pela sociedade ou pelas expectativas e anseios depositados no/a jovem.
Quero frisar que o padrão utilizado na criação e na educação das crianças criará vínculos duma correspondência estreita com o resultado do carácter futuro; se usarem de negligência e desinteresse, e padrões restritivos e sancionatórios, isso resultará na edificação duma personalidade potencial de vítima, incriminatória, temerosa e conflituosa. Se, ao contrário forem empregues padrões de atenção e de compreensão e auto-consciência, pela parte dos pais e dos educadores, o carácter poderá resultar no desenvolvimento de coragem, abertura, flexibilidade, espontaneidade, êxito e de espírito de equanimidade.
Os “erros” e “falhas” são, pois, significativos, não em si mesmos, mas justamente por constituírem “tubos de ensaio” na consolidação da atitude e da consciência, por encerrarem o potencial dum conhecimento alargado de si, que pode ser interpretado como discernimento. A concepção de elevados padrões de exigência educativa podem constituir uma armadilha; por se alicerçarem no terreno escorregadio da separação e do esforço, podem dar lugar ao desapontamento e pior do que isso, ao desânimo, quando não alcançados. E quando alcançados, o mais das vezes revelam resultados aquém do esperado em termos de realização pessoal e de correspondência com o que se pensava desejar de verdade.
Mas essencialmente constituem armadilhas por negligenciarem a vontade dos instruendos, e verdadeiras limitações ao pugnarem por uma incontornável apropriação indevida dos seus destinos, moldando-os aos próprios anseios e expectativas dos pais e dos educadores, ao invés de os familiarizar com uma abordagem íntegra da sua natureza e de os encorajar a honrar essa natureza pela recusa da desresponsabilização e da justificação. Os ideias respondem quase sempre pela instigação de sentidos de culpabilidade e de complacência com os padrões morais fragmentados da sociedade e do conflito e subestimam os mais elevados interesses da criança ou do jovem que é o da formação da consciência no terreno do saber o da definição de rumos, para o que concorrem sobretudo a auto-estima e o sentido de valor.
Não será demais salientar que a responsabilidade dos pais e educadores vai até ao ponto de tomarem consciência das projecções que movem, baseadas nas falsas premissas que alimentam. Jamais lhes cabe uma responsabilidade directa pelos educandos, pois a eles cabe a definição de sentidos de valor, de escolha, de rumos e de acções – sempre e em primeiro lugar. É nesse aspecto que muitas vezes pais e educadores “metem as mãos pelos pés” e misturam os sentidos ao interpretarem a responsabilidade com resultados que advêm da falta de correspondência aos padrões inculcados ou encorajados com base na justificativa de que as crianças não sabem o que querem; é um facto, e é justamente com base nele que quero deixar claro que isso não justifica a atitude gratificante de o fazer por eles, e apela para a atenção como base da compreensão de tudo o que está envolvido – tanto da parte do instruendo como do instrutor.
Ao equacionarem tal cenário, incluem noções de culpabilidade pessoal em face duma falta de correspondência, e entram em total confusão. Se não tiverem uma perspectiva cabal da dinâmica em que a personalidade assenta, e dos movimentos de equilíbrio e de compensação que se fazem passar pelos aspectos cambiantes que tendem a obnubilar a percepção, não poderão perspectivar a integridade que visam justamente desenvolver. Na verdade, tal desenvolvimento dá-se mais pela negativa e de forma indirecta, ou seja, por uma intervenção nos moldes referidos nos parágrafos anteriores, do que por uma intervenção massiva e “positiva” ou de cunho instrutivo. O conhecimento de si próprio provém da própria experiência e não é transmissível por meio da estrutura do pensamento e da concepção intelectual ou de práticas desagregadas mas por uma sinergia que resulta do exemplo e da experiência directa. Aos pais e educadores cabe assistir nesse processo contínuo de abordagem com consciência destes aspectos.
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