Session 2969
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Children of the Shift

Topics:

“As Crianças da Nova Era”
“A Estrutura do Sistema Estabelecido e a Mudança”
“Ligação Autêntica com os Outros”
“A Diferença Entre Apoio e Envolvimento Pessoal”



Quinta-feira, 7 de Maio de 2010 (Privada/Telefone)

Tradução: Amadeu Duarte

Participantes: Mary (Michael) e Axel (Ricarro)

ELIAS: Boa tarde.

AXEL: Olá. Estou novamente de volta.

ELIAS: E como está a tua aventura a prosseguir?

AXEL: Obrigado por perguntares. Tem-se revelado interessante, especialmente nos últimos dias. Isso é algo sobre o que queria conversar contigo. Desde que conversamos, as coisas tornaram-se bastante dramáticas, por o Lucas ter fugido de novo, enquanto se encontrava em casa da mãe. Mas tu estavas certo em relação a ele vir a correr de volta para mim. Foi só uma questão de dias até ele voltar para mim sem querer sequer considerar a opção de voltar para casa da mãe.

Mas depois eu tentei seguir as sugestões que me deste em relação aos desportos radicais e às actividades que proporcionam excitação no Lucas, e de início ele sentiu-se entusiasmado com a ideia e realmente a ideia agradou-lhe, mas não sofreu qualquer desenvolvimento por parecer que de algum modo precisava esforçar-me por organizar os eventos, e ele não sentia vontade de empreender tais esforços. Como por exemplo, fomos duas vezes andar de asa delta, só que leva um certo tempo a chegar lá, por obviamente ter que ser feito nos campos, fora da cidade, e demorar um certo tempo a chegar lá, e levar bastante tempo até chegar a nossa vez, e depender do tempo e isso, e o Lucas aborreceu-se mesmo antes de começarmos, e parece não ter mais vontade de voltar a uma prática contínua.

Outras coisas que sugeri como o hockey e andar a cavalo, ele nem sequer tem vontade de experimentar, e a única coisa que sente vontade de fazer continuamente é andar de karting. Por isso, não sei.

ELIAS: Mas isso é uma hipótese. Por isso, não foste completamente mal sucedido.

AXEL: Não, não fui. Muitas vezes o concelho que dás revela-se útil a longo prazo, por isso, apesar de agora não estarmos a dar início a nenhuma dessas actividades, elas ainda poderão ocorrer mais tarde, no futuro, talvez no prazo de um ano ou dois.

ELIAS: Pois.

AXEL: Trata-se de algo que depende igualmente da situação, da oportunidade, do tempo e isso, e sempre podemos voltar atrás.

ELIAS: Sim, tens razão.

AXEL: Mas também é algo a ter em mente, duma forma geral, o que se pode tornar útil.

ELIAS: Exacto. Mas são sugestões de diferentes opções que possas não ter empregado de modo automático.

AXEL: Pois é. E a noção de que não me focaria tanto nessas actividades.

ELIAS: Exacto, mas também grande parte da questão que essas sugestões envolvem consiste em permitir-te conhece-lo e ter consciência da orientação que toma, do desejo que ele sente de excitação, e dos diferentes aspectos que ele tem em relação aos quais podes permitir-te gerar uma grande compreensão.

AXEL: Pois, eu compreendi isso. Está certo, essa foi exactamente a compreensão que obtive. Pois há dois dias atrás foi dia do pai e por essa altura recebi um monte de notícias más, da parte dos professores, a maioria das quais tem que ver com o facto de ele não prestar atenção e de perturbar bastante as aulas, além de ter ocasionado alguns incidentes. O último foi segunda-feira passada, altura em que ele desobedeceu inteiramente às ordens do director da escola pelo que inicialmente terei pensado obter custódia total dele e passar a abordar a questão de outro modo, mas aí passei seriamente a considerar talvez colocá-lo em qualquer parte, e lancei-me de novo na busca das diferentes possibilidades dum internato. Mas o que acontece no caso dos internatos é quando começo a considerar o ambiente geral que lá se gera, e acontece que aqueles que oferecem um bom pacote de actividades se tornam bastante dispendiosos, e se tornam tão caros quanto o rendimento que obtenho ou mesmo mais ainda, pelo que, praticamente isso apresenta-se bastante difícil. Mas o outro aspecto é eu ter consciência de que o Lucas não faz o que lhe dizem para fazer quando não sente vontade de o fazer. E isso pode tornar-se num problema bicudo quando ele for para o internato e se deparar com o facto de nem tudo ser perfeito conforme o deseja, e para ele a coisa jamais se afeiçoa nesses termos.

ELIAS: Ah ah ah ah ah.

AXEL: (Ri) E ele acabar expulso, o que tem uma enorme probabilidade ou um enorme potencial de ocorrer, dependendo do meio em que se integrar, caso esse em que teremos exercido um monte de esforços que no fim se revelarão inúteis.

ELIAS: Estou a compreender.

AXEL: Esse é o perigo que vejo em relação a isso. Porque, penso que o problema no geral, em relação à situação dele na escola é que no modo como as aulas são dadas, que provavelmente é idêntico pelo mundo todo, não se adequa verdadeiramente ao seu fluxo natural permanecer sentado na aula de boca calada a prestar atenção ao professor, em silêncio e a tomar notas, esse tipo de atmosfera vai bastante contra a natureza vibrante dele de se querer expressar e de sentir bastante vontade de interagir durante a maior parte do tempo. Por isso eu estava a pensar se não devia fazer uma busca geral pelas escolas que lhe concedessem uma maior margem nesse sentido, e acabei por descobrir uma aqui na área para a qual ele poderia ir que fica talvez a menos de uma hora de comboio, e que podia tornar-se mais interessante do que um internato. Que achas da ideia? Tens alguma ideia?

ELIAS: Eu diria estar compreender bastante aquilo que me estás a dizer e que isso é uma situação com que muitíssimos pais estão a confrontar-se, e concordo em que, na maioria das áreas do vosso mundo todo, os vossos sistemas escolares não se reajustaram de forma a acomodarem as crianças desta era, que se estão a orientar bastante a elas próprias, e nesse sentido, subsiste um conflito que está a ganhar expressão por todo o vosso mundo em quase todas as culturas. Nesse sentido, muitos são os que se estão a voltar em sentidos alternativos, segundo a concepção que tendes, de providenciarem informação para si próprios, tal como tu e muitos outros, e estão a reconhecer que esses miúdos não estão a gerar o que designaríeis como más formas de conduta.

AXEL: Exactamente. Penso que a professora com quem falei há dois ou três dias, fiquei com a impressão de que ela tivesse uma compreensão da situação, em relação àquilo que acabaste de referir.

ELIAS: Pois, mas existem muitos indivíduos com a função de professores que encaixam nesses sistemas que estão a expressar frustração, por também eles terem consciência de que muitos desses jovens não estão de facto a gerar más formas de comportamento mas sentem-se cansados e não têm vontade de se comprometerem, nem têm vontade de ser mandados, o que também na verdade faz parte desta Mudança. Mas mesmo fazendo parte da Mudança, tal como estás ciente até mesmo pela própria situação que tens, existem certos aspectos da mudança que, quando as pessoas mudam de determinado modo, se tornam num desafio e a situação pode tornar-se difícil porque muitas das vossas estruturas estabelecidas nas vossas sociedades estão apegadas às suas velhas rotinas e às suas velhas estruturas e não têm vontade de mudar. Eventualmente isso far-se-á necessário por não terem a capacidade de continuar no modo que tentam continuar a operar, mas vós presentemente achais-vos no que designaríeis como uma altura intermédia. Tal como referi no começo deste novo milénio, actualmente atingiram a fase de inserção objectiva desta Mudança, e com a expressão objectiva desta Mudança, gera-se conflito e trauma, por prevalecer uma falta de vontade de mudança em muitas estruturas do sistema.

Bom; nisso, as pessoas estão a optar por não participar nos moldes das directrizes ineficazes impostas pelas estruturas, tal como os sistemas escolares estabelecidos. E nesse sentido, muitos optam por ensinar os filhos em casa...

AXEL: O que na Alemanha não constitui uma opção.

ELIAS: Ou então optam por pesquisar e procurar por outra alternativa, o que quer dizer procurar escolas diferentes, que eu diria ser uma alternativa viável, e dependendo do jovem e da vontade que ela manifeste em participar, eu encorajo esse tipo de orientação, por proporcionar mais a esses jovens uma expressão de liberdade e lhes permitir uma maior orientação pessoal, coisa que se revela importante, por constituir uma parte significativa das dificuldades.

AXEL: Bom, era nisso que eu estava a pensar. Eu quero que o meu filho se divirta na escola e passe um bom tempo, e isso na actual situação apresenta-se bastante difícil. Agora; o problema é que ele não quer mudar de escola. Nem quer mudar-se para outra cidade. Quer permanecer aqui onde reúne um monte de amigos, mas aí, é claro, torna-se muito mais fácil para ele não ter que viajar muito de comboio, pelo que me questiono sobre qual seja, em termos práticos, a melhor solução.

ELIAS: Em termos práticos, se essa é a direcção que estás a discutir e a considerar, nesse caso sugeriria que ambos discutísseis a situação, cada um de vós discutisse as vossas directrizes. Nesse sentido, deixa que te diga, não tanto tecnicamente como discutir os vossos princípios em termos técnicos, mas mais no sentido do que seja importante para cada um de vós. E nesse sentido, eu diria ser importante permitir-vos a ambos partilhar em liberdade, nesse sentido, e reconhecer e estabelecer quais sejam os factores que tenham maior importância para cada um de vós. E assim que tiverdes determinado os factores de importância para ti e quais tenham maior importância para ele, permitir-vos criar um acordo mútuo.

AXEL: Muito bem.

ELIAS: Ora bem, isso não representa nenhum compromisso, mas um acordo prático que passareis a criar em conjunto.

AXEL: Muito bem.

ELIAS: E nesse sentido, é uma questão de expressardes, cada um de vós, todos os factores envolvidos e de discernirdes quais sejam os menos importantes, e quais sejam os factores que tenham importância para o outro que não tenham tanta importância para ti e em relação aos quais possais concordar em tomar parte. E nesse sentido, poderá ter lugar um debate em que definirem um acordo e alguns dos factores mais importantes para ti poderem ser satisfeitos enquanto alguns dos factores de maior importância para ele possam também ser satisfeitos.

AXEL: Em certa medida eu já tenho vindo a fazer isso.

ELIAS: Muito bem.

AXEL: Bom, nós já o fizemos, só que talvez não tão a fundo nem com a clareza com que o passaremos a fazer agora.

ELIAS: Eu diria que quanto mais ambos partilhardes um com o outro com abertura, mais compreensão passareis a incorporar em relação um ao outro, e nesse sentido, podeis continuar a basear-vos no relacionamento com respeito ao vosso acordo mútuo, o qual possibilitará a cada um de vós satisfação. E nesse sentido, isso não apresenta a menor ameaça nem alcança o extremo e nenhum de vós deverá de facto sacrificar-se para obter êxito. Ele não tem vontade de ir para outra escola, porque na percepção que tem, isso envolve um sacrifício.

AXEL: Então isso estará fora de questão, nesse caso, se ele o define como uma questão importante.

ELIAS: Exacto. Mas eu diria, tal como tu referiste previamente, não se tratar dum absoluto mas duma opção que sempre poderá ser reconsiderada de novo, mas é importante considerar o momento próprio e permitir um primeiro passo de partilha e de definição de importância por parte de cada um de vós, e prosseguir a partir desse ponto.

AXEL: Sim, eu compreendo. Esta semana passei pela experiência de perceber que tudo seja mais flexível do que pensei, porque... Permite que passe a descrever o que quero dizer. De cero modo é engraçado, ma só há uns dias atrás senti, pela primeira vez, ter-me ligado pela empatia com algo no íntimo do Lucas que não tinha pressentido antes, o que denuncia que em certas situações em que ele parece ser insolente ou maroto ou esteja a denunciar falta de cooperação superficial, ele de facto está a atravessar um conflito intenso no íntimo em relação aos sentimentos que o acometem, o que tem que ver com a alternância dos humores que os adolescentes atravessam, mas não se revela assim tão simples que possamos - tal como no modelo tradicional de criação da criança, em que dispomos de certas regras que simplesmente parecem razoáveis e que os garotos precisam respeitar, e que frequentemente se revela efectivamente uma questão da energia do momento - e eu noto que o ponto comum que as motivações dele apresentam realmente assentam na orientação pessoal que imprime. Ele não é capaz de fazer aquilo que não tem vontade de fazer, o que de facto vai contra os seus princípios. E se o fizer, isso poderá quando muito operar momentaneamente, mas jamais resulta a longo prazo. E ele apresenta uma grande autoconfiança e uma certeza em relação ao que quer, e tem consciência de poder identificar aquilo que quer, e sente-se bastante determinado a segui-lo - o que conhece acerca de si próprio.

ELIAS: Sim.

AXEL: Por isso torna-se sobremodo importante para mim contactá-lo igualmente e entender isso de forma a poder estabelecer um contacto que me permita relacionar-me, porque de outro modo, sinto uma certa motivação para fazer algo, e eu apresento-lho, mas ele dirá que não, ou simplesmente não o fará, e se nesse preciso momento eu não compreender a razão porque não o faz, aí de que outras escolhas disporei? Posso sentir-me frustrado ou zangado, ou apenas ceder, em cujo caso me sentirei igualmente infeliz com o resultado, por ter comprometido as minhas directrizes - do ponto de vista da consciência disso. Esta consciência elevada que tive muito recentemente parece alterar-se bastante a meu ver, porque de repente tudo parece tão flexível, como se tivéssemos descoberto uma base de interacção comum, coisa que ele sente. E isso está a alterar a energia que se gera entre nós.

ELIAS: Pois, e eu estendo-te um enorme reconhecimento. Mas tens razão, meu amigo, quando ele tenta passar a opor-se às próprias directrizes, isso torna-se muito mais intenso do que acontece contigo ou com outros adultos. A razão disso prende-se com o facto de tu e outros adultos terdes agregado associações ou apêndices à vossa identidade, por intermédio do que aprendestes e do que vos foi incutido, e nesse sentido, alguns desses apêndices influenciam-vos por vezes, e levam-vos a passar por cima das vossas linhas de orientação. Vós acostumastes-vos - com a experiência e com o tempo - a fazer vistas grossas aos vosso princípios em certas alturas. Estes garotos não estão acostumados a isso, situação em que...

AXEL: Isso gera determinadas dinâmicas interessantes nesta sociedade actual.

ELIAS: Sim, absolutamente, porque essas crianças estão habituadas a orientar-se e a reconhecer as suas próprias linhas de orientação, com o que dão lugar a um novo tipo de percepção, e essa nova percepção passa a ser dirigida de um modo que produz a noção duma certa falta de compreensão em relação à hipótese de se afastarem das suas próprias linhas de orientação. Eles não compreendem, e nesse sentido, o que estabelece o conflito e a dificuldade é o facto de perceberem que os outros se sintam perturbados. Eles percebem se eles se sentem em conflito ou angustiados ou infelizes, e com isso, um aspecto deles que não deseja que os outros se angustiem nem entrem em conflito, dá origem a criarem conflito neles próprios por não se sentirem confortáveis com a angústia ou o aborrecimento ou conflito que manifesteis, mas ao mesmo tempo eles não compreendem inteiramente o processo, só que sentem uma enorme dificuldade em passar a assumir uma atitude de fazer o que vós automaticamente fazeis, que é afastar-vos das vossas linhas de orientação. No caso deles só não expressam isso duma forma automática, por terem dificuldade em faze-lo.

AXEL: Pois é, isso torna-se numa situação difícil para toda a gente.

ELIAS: Pois é, por incorporardes ideias e alimentardes ideais relativos ao que desejais para os vossos filhos e quererdes que eles se sintam confortáveis e felizes e que atravessem a presente experiência com facilidade. Não quereis que eles sintam conflito. Só que com isso, também passais a perspectivar todo um quadro em que a ausência de conflito implique necessariamente sujeição ou obediência a certas e determinadas estruturas. Mas para eles, conformar-se com certas estruturas dá lugar a muito mais conflito do que habilitar as suas próprias directrizes e dar atenção a qualquer forma subsequente de conflito que possa surgir.

Uma consequente importância, para essas crianças, traduz-se por um cenário de menor conflito. O cenário que representa o conflito mais significativo será procurar suprimir as suas próprias directrizes e o seu fluxo natural.

AXEL: Certo. Posso constatar igualmente isso.

ELIAS: Mas nesse caso, isso irá gerar-lhes um autêntico estado de angústia, por esses garotos se sentirem continuamente em conflito sob essa influência contínua.

AXEL: Foi por isso que senti ser importante procurar suscitar algum esclarecimento em relação à situação.

ELIAS: Estou absolutamente de acordo.

AXEL: Porque já vi empregarem termos semelhantes, anteriormente, mas só agora compreendo de facto o que isso envolve.

ELIAS: Pois, e isso é muitíssimo importante, meu amigo. Estendo-te um enorme reconhecimento porque tens razão, tanto eu como outra fonte qualquer poderemos estender-te informação e dizer-to, mas a menos que de facto faças a experiência disso e proporciones a ti próprio uma compreensão genuína, isso não passará dum conceito e de meras palavras.

AXEL: Esse é o benefício que o meu filho obtém com o facto de se orientar pela própria vontade e de se tornar autónomo.

ELIAS: Em razão do que os filhos se tornam num exemplo.

AXEL: Sim, e num reflexo disso.

ELIAS: Mas deixa que te diga, meu amigo, que isso representa um outro aspecto que se torna bastante difícil para as pessoas, por dardes lugar a essas percepções dos papéis ou posições que deveis desempenhar, um dos quais traduz que os adultos se devam tornar num exemplo, o que está a sofrer uma inversão. As crianças é que se estão a tornar num exemplo para os adultos, só que essa é uma mudança difícil de levar a cabo.

AXEL: Sim. Isso leva-me a pensar noutra coisa que queria mencionar. Numa sessão de grupo recente tu referiste esta interligação acrescida que estamos a começar a experimentar, que nos poderá levar a sentir um tanto – para o referir por palavras minhas – precavidos ou passarmos a desconfiar em relação ao modo como os outros passam a olhar-nos. Quer dizer, se pudermos perceber o íntimo uns dos outros, quando as pessoas nos passarem a conhecer e nós a elas, isso poderá assemelhar-se a uma grande exposição pessoal.

ELIAS: Sim.

AXEL: Mas não me senti desse modo. Na realidade senti o contrário.

ELIAS: Ah, mas tu estás…

AXEL: Eu entendo melhor as pessoas e já não sinto mais receio.

ELIAS: Ah, mas também estás a dar início a uma nova forma, por te teres habilitado a produzir essa conexão genuína com o teu filho e isso te poder conduzir numa direcção na qual não experimentas necessariamente esse desconforto inerente ao genuíno reconhecimento da interligação, por já te teres exposto e já estares a permitir-te experimentar essa interligação, pelo que já estás a sugerir a ti próprio exemplos do quanto isso nada tem de ameaçador.

AXEL: Não é ameaçador de todo, pelo facto de me conferir uma compreensão. Revela-me não existir coisa alguma que me possa ameaçar ou de que ter medo. Todos somos gente, como sabes!

ELIAS: Exacto.

AXEL: Num certo sentido, somos todos uma mesma coisa.

ELIAS: Mas proporciona-te libertação, porque quando estabeleces a consciência dessa interligação, ela permite-te uma maior compreensão, e permite-te reconhecer que todos esses aspectos que poderias perceber como ameaçadores na verdade não o são, em razão do que passas a incorporar uma tremenda libertação e uma muito maior liberdade para seres tu próprio.

AXEL: E nessa mesma medida, sinto mesmo que quando o faço, os outros o reconhecem a um nível qualquer, e que por seu turno passam a cooperar mais.

ELIAS: Tens toda a razão, o que aponta precisamente o que acabei de referir.

AXEL: Basicamente elas sentem que são escutadas. Eu compreendo-as, mas de algum modo elas reconhecem estarem a ser entendidas e sentem-se menos ameaçadas.

ELIAS: Positivamente! É nisso que reside a questão. Isso traduz a questão que tenho vindo a referir repetidamente: a razão porque se torna tão importante que isso comece em ti, porque quando o empreendes, isso passa a propagar-se e passa a influenciar todo o mundo à tua volta e todo e qualquer indivíduo com quem te depares...

AXEL: Mas, Elias, sabes que o que para mim isso trás de novo é o facto de eu o conseguir de modo tão intencional ou deliberado, quase como que por exercício da vontade, e praticamente em qualquer altura.

ELIAS: Nisso reside a questão! (Elias revela-se simplesmente esfusiante de alegria pela consciência que o Axel demonstra nesta passagem) Os meus parabéns! mas vou-te dizer, meu querido amigo, que tu sempre incorporaste esse poder e essa capacidade. Ela esteve presente o tempo todo e sempre fez parte de ti. Só que é agora que o reconheces e tomas consciência dele, e o passas a exercitar.

AXEL: Tenho vindo a pôr em prática algo que mencionaste na sessão de grupo, que me aflorou à mente quando referiste – não recordo as palavras exactas – trata-se duma ideia que me foi despoletada no íntimo em relação a podermos relacionar-nos com qualquer pessoa a um nível profundo, para onde quer que nos voltemos, e em qualquer ocasião. E eu tenho vindo a dar tratos a essa ideia nos últimos dias, como quando eu descia a rua na cidade, ou permanecia parado na paragem do autocarro e olhava para alguém fingindo já conhecer essa pessoa, como se já a conhecesse há imenso tempo, e lhe conhecesse o íntimo, e aquilo que a faça palpitar, etc. E em certa medida isso funciona.

ELIAS: Positivamente.

AXEL: E produz uma correlação especial.

ELIAS: Pois, nesse sentido…

AXEL: Produz uma situação na qual se me meter à conversa com ela, é como se já se tenha criado uma certa vibração ou atmosfera entre nós.

ELIAS: Sim, e com isso, quanto mais o conseguires e quanto mais o praticares, mais automático isso se tornará, e maior liberdade passarás a expressar, e mais fácil se tornará.

Deixa que te diga, meu amigo, como já tive ocasião de o repetir vezes sem conta, esses actos são de facto simples e nada têm de muito complicado.

AXEL: Não.

ELIAS: Não são difíceis. São muito simples e eficazes. É unicamente por estardes todos tão acostumados a complicar tudo o que fazeis...

AXEL: Relativamente ao costume de complicarmos, há uma coisa sobre a qual tenho vindo a pensar e provavelmente a complicar, pela parte que me toca, frequentes vezes, mas também retrocedo a uma perspectiva bastante simples em relação a toda a questão da identidade genuína. De facto nem sei de que forma o possa colocar. Pode soar um tanto estúpido, mas a forma como a encaro é que a consciência da nossa identidade genuína já se acha presente, e à nossa disposição, mas o que parece colocar-se como um obstáculo à realização disso é que a consciência dela e a obtenção duma consciência bastante objectiva do que englobe, é aquilo de que a maior parte do tempo tu falas, e talvez seja essa a razão porque tanto falas nisso - as associações, as crenças, as reacções automáticas, os sentimentos...

ELIAS: São os apêndices que lhe anexais.

AXEL: Tudo isso que está a ter lugar na nossa consciência objectiva e em que nos concentramos e nos mantém quase hipnotizados e completamente distraídos em relação a um outro nível em que tudo se acha já inserido.

ELIAS: Sim. Precisamente. Tens razão.

AXEL: E é por isso que se trata simplesmente duma questão de relaxarmos e de permitirmos que isso venha ao nosso encontro.

ELIAS: Sim, positivamente! E nesse sentido, é apenas uma questão de alterardes ligeiramente a percepção que tendes porque, tens razão, tudo se acha presente. Toda esta existência, toda esta liberdade, toda esta emancipação já se faz presente; vós já possuís isso tudo. Apenas o encobristes e o encerrastes na concha formada por todas essas expressões, pelo que não vos concedeis essa capacidade de autenticidade que vos caracteriza. E sentis medo - senão mesmo pavor - com a possibilidade de admitirdes uma expressão qualquer de autenticidade da vossa parte, por receio de alguma consequência forçosa, e de dar um simples passo, um simples acto da habilitação em relação à vossa autenticidade, por mais simples que seja a situação em que o façais, tal como uma recusa a um convite para jantar. Mas sentis terror com a mera ideia de vos habilitardes para expressardes uma simples acção de capacitação por temor de qualquer consequência terrífica, quando na realidade a consequência, na maior parte das vezes, nem sequer tem existência.

AXEL: Pois é. Isso denuncia igualmente a questão da consciência que tendes de vós próprios e do outro. Foi isso que eu mencionei que afasta a ameaça.

ELIAS: Pois.

AXEL: Porque na verdade, qual será o problema numa situação dessas, não é? Mas aí, é claro, isso também depende do facto de que se quisermos declinar o convite, e tivermos consciência da inteira situação e das outras pessoas envolvidas, isso, claro está, irá influenciar o modo como expressamos a preferência que temos.

ELIAS: Sim.

AXEL: Acabaremos por descobrir um modo de o expressarmos de uma forma que os outros envolvidos compreenderão e passarão a aceitar.

ELIAS: Sim.

AXEL: E aí deixa de existir qualquer problema.

ELIAS: Correcto.

AXEL: Pode ocorrer de um modo diverso. Declinar um convite ainda representará uma coisa insignificante, mas se o expressarmos por intermédio duma energia desadequada, poderá ser interpretado de um modo ofensivo.

ELIAS: Sim, tens razão, e podeis mesmo complicar. Mas quando de facto vos estais a permitir ser e expressar-vos duma forma genuína, não se apresenta qualquer ameaça.

AXEL: Não vem a dar-se, de qualquer modo.

ELIAS: Exacto, por não estardes a expressar nenhuma ameaça.

AXEL: Tudo já terá sido considerado, não é mesmo? Quer dizer, não precisamos preocupar-nos com a consideração quando nos expressamos a partir da nossa genuína...

ELIAS: Exacto, por isso já acontecer automaticamente.

AXEL: Já se acha incluído nisso.

ELIAS: Sim, porque isso representa permitir-vos ser a expressão da essência na forma física, e as essências não se intrometem. As pessoas podem intrometer-se, mas no estado do vosso eu genuíno, não o fareis, e não expressareis qualquer ameaça. E isso não é...

AXEL: Nos últimos meses tenho vindo a ter tuberculose, e penso que seria óptimo fazer um intervalo ou isso, por fazer tempo que não preciso ir para o emprego, e continuar a não precisar. Penso que isso me tenha ajudado a destrinçar um pouco estas coisas, não achas?

ELIAS: Sim, estou de acordo. Mas deixa que te diga, meu amigo - quando refiro que na vossa natureza autêntica não expressais nem apresentais qualquer ameaça e essa é a razão por que os outros naturalmente respondem de um modo diferente e se mostram também mais abertos, não o digo com a intenção de realçar a ideia de que vos torneis robotizados. Nem quer dizer que deixeis de incorporar sentimentos ou opiniões ou preferências.

AXEL: Claro que não!

ELIAS: Tampouco quer dizer que vos torneis inteira e automaticamente passivos. Porque isso não é o que acontece. Podeis ser fortes em vários sentidos e a expressar as vossas opiniões com vigor, por reflectirem as vossas linhas de orientação e as vossas preferências, mas até mesmo no tocante a essas expressões, gera-se uma energia constante e uma expressão de capacitação e deixa continuamente de se apresentar a menor ameaça. Passa a existir a energia clara de que as vossas expressões, princípios, opiniões ou preferências vos dizem respeito, e passais a admiti-las, e a gostar delas, mas também reconheceis que isso não é projectado na direcção de mais ninguém, e por isso não constitui qualquer ameaça.

AXEL: Sim. Elias posso perguntar-te uma coisa diferente antes de chegarmos ao fim?

ELIAS: Podes.

AXEL: A Julie tinha uma pergunta relacionada com o Shinzen Young e queria saber se ele tem uma orientação comum. Penso que tenha.

ELIAS: Tem.

AXEL: E se o Sasaki Roshi é soft.

ELIAS: É.

AXEL: E eu quero colocar um pergunta da parte de nós dois. Quando nos conhecemos, na sessão de grupo de Outubro, reconhecemos que toda vez que nos tocávamos se gerava uma tremenda interacção e um fluxo energético, e um fluxo de energia de tal modo intenso que nos interrogamos se existirá algo em relação a isso que possa tornar-se interessante conhecer e de que não tenhamos tido consciência antes. Penso que se deva ao facto de nos completarmos bastante um ao outro e a Julie empregou mesmo a metáfora de “completar o circuito”, o que penso que constitua uma excelente descrição.

ELIAS: Sim, eu concordo com ambas essas duas expressões, pois, deixa que te diga que quando se gera uma energia complementar entre as pessoas, ela estabelece um tipo de círculo, uma competição por assim dizer, ou um fluxo natural. E se os indivíduos criarem ou expressarem uma abertura e uma consciência de si mesmos e dessa energia, haverão de notá-lo, e isso foi o que te permitiste experimentar. Também diria existir uma ligação significativa entre vós os dois individualmente, mais fora desta dimensão do que nela, apesar de gerardes consideráveis ligações e interacções nesta dimensão física, só que mais fora desta dimensão; vós gerais ligações consideráveis e experiências e interacção. Eu diria também que cada um de vós comporta um significativo número de focos numa dimensão particular que é bastante adepta da manipulação da energia.

AXEL: Ah.

ELIAS: E nesse sentido, a comunicação é expressada por meio da energia, também. Eles não incorporam nenhum outro tipo de linguagem.

AXEL: Ah, e isso trespassa desse modo e leva-nos talvez a sentir uma ligação marcante em termos de energia, nesta dimensão também.

ELIAS: Sim, porque quando permitis uma ligação como tu permitiste, vós também incorporais uma abertura e um conhecimento, como fazes neste foco, que te permite que isso trespasse, o que vai realçar a ligação da energia e a sensação que acompanha isso e o reconhecimento da coisa nesta dimensão e neste foco.

AXEL: Pois. A Julie tem uma outra pergunta. Talvez possamos discutir isso antes da sessão terminar. A Julie tem uma amiga chamada Judith, e ela parece telefonar com frequência à Julie e está sempre a falar da doença que tem, o que causa imensa tensão na Julie, e até mesmo nas alturas em que elas não conversam ao telefone, ela consegue sentir uma forte energia por parte da Judith, e a Julie interroga-se se ela possuirá uma orientação intermédia e sobre o que seja que ela esteja a expor a si mesma nessa situação, e qual será o comunicado que isso encerra.

ELIAS: Sim, essa pessoa possui uma orientação intermédia. O que estará a apresentar a si mesma? Está a apresentar a si própria uma oportunidade de interagir e de apoiar o outro, mas sem se deixar envolver. Esse é um aspecto significativo do que ela está a apresentar a si própria, por ser isso o que ela geralmente faz. Ela está a dar apoio, só que deixa-se envolver, pelo que passa a deixar que a expressão da outra pessoa a afecte, mesmo que deixe de interagir com ela.

AXEL: A Julie não se acha envolvida nesta situação.

ELIAS: Mas está a deixar envolver-se.

AXEL: Ela está a envolver-se, o que traduz algo que ela faz com frequência. É claro, se me for permitido falar em nome dela, suponho que ela apreciaria uma sugestão que lhe alivie o desconforto associado à questão.

ELIAS: Ela está a permitir que os seus sentimentos se envolvam quando tal não se faz necessário. Eu dir-lhe-ia: “Lembra-te de que os sentimentos constituem sinais e a mensagem que encerram é sempre bastante simples. Não consta de nenhuma filosofia, nem livro, nem dum parágrafo sequer. Trata-se duma declaração simples que representa aquilo que a mensagem emocional encerra, sob o sinal do sentimento. E geralmente, quando o indivíduo dá continuidade aos sentimentos, especialmente no que diz respeito aos outros, o indivíduo começa a criar esse carrossel da repetição daquilo com que se envolve.

Ela está a envolver-se com a expressão da outra pessoa, e ao faze-lo, isso não lhe diz respeito nem é responsabilidade sua. Não estou a referir que ela deva deixar de se interessar ou que não seja importante que ela sinta interesse, mas tão só não ser responsabilidade sua para se deixar envolver. O seu envolvimento encontra um término justamente na acção de optar por dar apoio ou não. Se optar por dar apoio, essa acção assenta simplesmente na acção de escutar, e desse modo, isso definirá a extensão que o envolvimento pode alcançar. Mas ela está a conduzir o envolvimento além, e essa é a razão porque continua a abrigar esses sentimentos. Os sentimentos constituem o indicador da mensagem; bastante simples, bastante precisa e reduzida: “Tu estás a envolver-te.” Isso é tudo.

AXEL: Muito bem. Muito obrigado, Elias.

ELIAS: Não tens de quê, meu amigo. Mas, uma vez mais, estendo-te as minhas congratulações e um tremendo reconhecimento pela compreensão que atingiste no recente envolvimento com o teu filho.

AXEL: Muitíssimo obrigado.

ELIAS: Continuarei a estender-te o meu encorajamento e um tremendo apoio. Até ao nosso próximo encontro, meu caro amigo, com um enorme afecto, como sempre, au revoir.

AXEL: Au revoir.




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