Session 2755
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What Do You Want From You?

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Sábado, 28 de Março de 2009 (Privada/Telefone)

Participantes: Mary/Michael e Bill/Zit

Tradução: Amadeu Duarte
(Versão resumida)
...

BILL: A razão principal porque estou a ligar-te tem que ver com um tremendo conflito que tenho vindo a sentir, tristeza e confusão ligadas à minha situação familiar, e em particular ao meu filho que está com vinte e um anos e escolhe uma dependência das drogas e rouba e outras dificuldades.

A minha pergunta na verdade é a seguinte, tu e outros “fantasmas” - espero que não te importes com o facto de te chamar “fantasma” – todos vós dizeis que nós criamos a nossa realidade inteira mas a mim parece-me que, se eu crio a minha realidade inteira, e não apenas, digamos, a manifestação física dele, parece que também devo estar a criar os comportamentos relativos a ele que estou a apresentar a mim próprio. De outro modo ele está a criá-la à toa e tudo o que eu faço é reagir-lhe.

Dirás que eu também estou a criar os comportamentos com quem eu interajo?

ELIAS: Permite que esclareça. A resposta precisa a essa pergunta é sim e não, porque tu não estás a criar as expressões nem os comportamentos nem as escolhas do outro mas estás a criar a presença dele na tua experiência e estás a criar a participação que tens com o outro indivíduo. Tu não crias a realidade dos outros mas na tua realidade é tudo bastante preciso e nesse sentido todo aquele com quem interages ou a quem contactas, é precisamente colocado aí porque, por assim dizer, em todas as situações tu atrais ou chamas a ti com bastante precisão cada indivíduo com quem interages, seja em que situação for.

Agora; fazes isso porque, em termos gerais, é mais difícil um indivíduo perceber diferentes aspectos de si próprio, ou sequer o que eles estejam a operar em muitas situações, do que o perceber no outro e proporcionar informação relativa a ti próprio. Por isso os outros com quem interages foram inseridos com precisão na tua realidade, seja em que situação tenha sido, a fim de te reflectir algum elemento a ti próprio.

Bom; com isto, permite que enfatize que reflectir não é servir de espelho, pelo que aquilo que o outro está a fazer ou a expressar ou as escolhas que estiver a empreender ou os comportamentos que estiver a expressar, estará a reflectir algum elemento em ti mas pode não ser aquilo que estás a fazer. Essa é a razão porque esse reflexo pode, por vezes, revelar-se factor de confusão porque as pessoas automaticamente pensam que, como estão a apresentar algumas manifestações perturbadoras por intermédio de outro indivíduo, eles próprios deverão estar de algum modo a proceder a alguma acção bastante semelhante no seu íntimo – coisa que nem sempre é a situação. Por vezes, pode tratar-se dum tipo de reflexo destinado a proporcionar-vos uma maior informação em relação ao vosso modo de reagir ou à participação que estais a ter. Pode tratar-se dum reflexo que vos realce o que vós próprios estais a deixar de fazer, ou o que estiverdes a fazer, por meio dum processo diferente, e nesse sentido permite-vos obter uma maior clareza e uma maior consciência do que estiverdes a operar, assim como em relação ao modo como estais a participar de forma a tomardes uma maior consciência íntima de vós próprios e em relação ao tipo de energia que estiverdes a projectar.

Agora; nesta situação, perguntar-te-ia, que é que tu estás a fazer?

BILL: Essa é uma boa pergunta. (Ri) O que é que eu estou a fazer? Não estou a confiar nele, em primeiro lugar. Assumo que isso seja uma acção, como tu disseste, essa falta de confiança...

ELIAS: Sim, é sim.

BILL: ...E estou a deixar de ter confiança em relação a ele vir a tornar-se responsável - a responsabilidade é uma coisa em que sinto dificuldade – mas aquilo que estou igualmente a fazer é a querer que ele passe a escolher de modo diferente. Quero que ele passe a eleger uma possibilidade de deixar de ter desejo de consumir drogas e que escute aquilo que ele próprio comunica. Quer dizer, ele está a criar coisas que lhe diminuem a auto-estima, e eu quero que ele tenha atenção por isso. Penso que o que estou a fazer seja mais ou menos quase como que a interromper, quer dizer, porque razão haverei de manter uma relação com ele se ela se está a tornar cada vez mais difícil? Será que isto revelará um quadro preciso em relação à percepção que tenho da minha energia? Ou terei omitido alguma coisa?

ELIAS: Um pouco. Eu sugeria-te um jogo em relação ao que tu estás a fazer. Não aquilo que tu queres que ele faça, mas que é que tu estás a fazer?

BILL: Pois, eu penso... Caramba, eu devo estar a fazer coisas... (Inaudível)

ELIAS: Que tipo de interacção tens com ele?

BILL: As formas de interacção que tenho tido com ele têm se encaminhado em dois sentidos. Uma consiste na partilha da informação que tu forneces, mas ao mesmo tempo, especialmente quando me sinto irritado essa irritação que lhe dirijo fá-lo sentir-se infeliz em relação às escolhas que faz, por isso aquilo que estou a fazer é a irritar-me, e em termos concretos estou a criar uma grande retenção das finanças, por assim dizer, ao manter o dinheiro afastado de modo a impedir que tenha acesso aos recursos até estar preparado para isso. Será isso que estás a perguntar?

ELIAS: Sim. Estás a escutar aquilo que estás a dizer?

BILL: Se estou a escutar? Tudo isso se baseia na minha falta de confiança...

ELIAS: Compreendes aquilo que a cólera traduz?

BILL: Ausência de escolha, não é?

ELIAS: Correcto.

BILL: Representa uma comunicação de falta de escolha ou da percepção de escolha.

ELIAS: Correcto. Mas com isso, tu tornas-te irritado por deixares de perceber as tuas escolhas. Não te sentes zangado por ele não te escutar nem por ele não estar a fazer aquilo que pretendes que ele faça. Estás irritado por não perceberes qualquer escolha que esteja à tua disposição, nessa situação. Por isso sentes-te restringido – o que está também a reflectir-se através dos actos que estás a assumir – mas tu estás a dirigir essa restrição para ele – ou não penses tu tal coisa – porque na verdade tu não consegues restringi-lo - se ele não to permitir. Podes gerar muitíssimas acções no sentido de restringir, mas quem é que estará efectivamente a restringir? Tu. Tu estás a posicionar-te na defensiva, a deixar de partilhar, a negar-te, e tudo isso constitui acções que te restringem. E que estarás a fazer em relação a ele, além de o estares a encorajar a fazer aquilo que continua a fazer?

BILL: Então o que estás a dizer é que de facto esteja a encorajar aquilo que ele estará a fazer?

ELIAS: (De modo enfático) Sim! Porque, quanto mais expressas depreciação em relação a ele, quanto mais expressas que ele esteja errado ou que esteja a gerar más escolhas, mais reforças aquilo que já lhe é dado perceber. E por isso mais o encorajas. Em termos de energia, por assim dizer, bem que podias, abordá-lo do mesmo modo e dizer-lhe: “Eu aprovo tudo aquilo que estás a fazer, e espero que continues.” Isso é o que a tua energia está a expressar-lhe. Porque, quanto mais te opões, mais ele se oporá, através dum acto de defesa.

BILL: Quanto mais me oponho às escolhas que promove, mais ele continuará com elas.

ELIAS: Correcto, por estares a gerar importância em torno delas e estares a gerar um reforço dessa importância com o acto dessa energia de oposição, e ele vai ao encontro dessa energia com uma outra energia de oposição – uma defesa. Quanto mais forças mais ele se defende, e quanto mais se defende mais ele procede do modo que não queres que ele proceda.

BILL: Ah, bom, isso parece um tanto difícil de detectar. Se eu percebesse o comportamento sem o julgar e o aceitasse, os seus comportamentos alterar-se-iam?

ELIAS: Se tu não gerares tanta importância em relação ao comportamento dele, se tu não te fixares nele em vez em ti próprio, se não permitires que as escolhas que ele promove te ditem as tuas escolhas – coisa que tu estás a fazer – e se tu não o recompensares – coisa que também estás a fazer...

BILL: Que recompensa será essa?

ELIAS: Estás a dispensar-lhe uma considerável atenção. Mas deixa que te diga, meu amigo, atenção é atenção; quer a consideres como boa ou má, isso não tem importância. Se um indivíduo estiver a suplicar por atenção não tem importância que ela seja boa ou má.

BILL: Não importa que a atenção que se obtém seja boa ou má.

ELIAS: Correcto. É atenção. Nesse sentido, é uma questão de tu te focares mais sobre ti próprio. Quando expressas uma partilha de informação, de que modo será ela recebida?

BILL: Ele ignora-a completamente.

ELIAS: Correcto. Porque ele não a está a pedir.

BILL: Não, ele não a pede.

ELIAS: Mas tu na verdade não estás a partilhar mas sim a instruir. E nesse sentido, estás a instrui-lo na esperança de que ele escute e possa mudar. Mas não é uma questão dele mudar mas sim de tu mudares.

BILL: Então será uma mudança em mim próprio o que possa reflectir uma possível mudança nele?

ELIAS: É. Deixa que te diga...

BILL: Pois, eu prestei atenção a mim próprio ao dizer isso. Isso é escolha dele, não é?

ELIAS: É sim, mas quando tu mudas também alteras a tua participação. Por isso a possibilidade dele gerar escolhas diferentes ou não, não deve ser fundamentalmente importante para ti.

Agora; entende que isso não quer dizer que tu não sintas interesse. Tampouco significa que o afecto e o amor que sentes possam ser, seja por que meio for, diminuídos, porque não são, mas se baixares o grau de importância e removeres a crítica que lhe votas tu passas a apresentar não apenas uma energia diferente como também ofereces um exemplo. Um exemplo destituído de palavras.

BILL: “Destituído de...” Estou... Estás aí?

ELIAS: Estou.

BILL: Não ouvi o que disseste, penso que se terá criado uma interrupção na linha.

ELIAS: Um exemplo sem palavras. Estás a procurar apresentar um falso exemplo por palavras mas se mudares a tua energia e prestares atenção a ti próprio e gerares as tuas próprias escolhas sem te preocupares com as escolhas dele – as quais não consegues mudar! – poderás mudar a forma como te apresentas a ele, e por isso poderás dar o exemplo. Aquilo que estás agora a apresentar consiste num exemplo do que não deve ser: por meio da irritação, da oposição, da falta de escolha, da impotência pessoal, das restrições pessoais – esse é o exemplo que estás actualmente a apresentar. E ele está a configurar-se a ele.

BILL: Muito bem. Então se eu prestar atenção a tudo isso e me tornar o exemplo (Faz uma alusão à analogia do pequeno rebento) ainda que ele não altere as escolhas em relação ao que faz, ele deixará de dar continuidade ao mesmo tipo de energia em relação a mim?

ELIAS: Correcto. Mas é muito provável que ele comece a mudar alguns comportamentos. Isso poderá não ocorrer de imediato mas, se lhe apresentares tal exemplo, e gerares uma energia de aceitação em vez duma energia com base na crítica e na oposição, isso poderá influenciar bastante.

BILL: Eu pareço saltar para a frente e para trás entre a aceitação... Mas as minhas acções... Quer dizer, na minha mente, sabes, eu compreendo que ele esteja a proceder às escolhas dele, mas pelas atitudes que tenho para com ele, é como se me opusesse a elas. Será essa a avaliação exacta?

ELIAS: Eu digo-te que está parcialmente correcto. Eu digo-te que a última instância do que referiste, em relação às tuas acções está correcta mas discordaria com o “saltar para a frente e para trás” entre a oposição ou a formulação de juízo crítico e a aceitação, por ser inexacto. Porque tu não aceitas, mas o que incorporas mais são momentos em que te acalmas e com isso tu preferes ignorar, ou então exasperas-te e geras momentos de desistência, por assim dizer, mas tudo aquilo de que estás a desistir é da luta. E isso não é aceitação. Isso não passa de alturas em que te esgotas nas tuas energias e temporariamente desistes de lutar.

BILL: É, continua-se a choramingar e a pedir aos berros.

ELIAS: Eu refiro isso como uma situação de te esgotares e de desistires temporariamente da luta.

BILL: Pois, isso faz todo o sentido (A rir). Mas é cá um frete... Parte da dificuldade que sinto com isto, consiste em assistir ao facto dele estar a... Quer dizer, porque ele se sente infeliz. Tenho a certeza de que compreendes o quanto os pais detestam ver os filhos auto-destruir-se, ou o que possa assemelhar-se a uma coisa dessas...

ELIAS: Eu compreendo.

BILL: ...Eles procedem às escolhas que elegem lá pelas suas razões, mas... Na criação da minha própria realidade, o que basicamente me estás a dizer é que preciso mudar-me a mim sem necessariamente ter que o mudar a ele, terá sido isso?

ELIAS: Foi, mas também referi ser bastante provável que isso o venha a influenciar de um modo que venha a provocar mudanças.

BILL: Pois. Também ouvi isso. Tu estavas a dizer-me que eu crio os comportamentos dele também e que se eu descobrir o que se passa comigo todo o seu comportamento mudará, mas ser igualmente provável que possa revelar-se suficiente e possa ajudar-me a compreender melhor a mim mesmo. Mas eu “apresentei” igualmente a mim próprio um outro filho que parece ter os mesmos problemas, pelo que parece tão pouco habitual que eu “apresente” dois filhos - eu tenho duas filhas que não passam pelas mesmas dificuldades – que os dois filhos sintam as mesmas dificuldades, que me interrogo da razão por que se terão ambos “encaminhado” para tal situação em vez das minhas filhas. Terás alguma ideia acerca dessa razão?

ELIAS: Tenho. Eu diria ser bastante óbvio que apresentes a ti próprio o desafio relacionado com o sexo masculino, devido a que tu também sejas homem e isso constituir um desafio em relação ao teu próprio sexo. Eu dir-te-ei ser bastante provável que te expressasses de modo diferente em relação às tuas filhas mas, isso não é tão pouco usual assim, porque tu és homem e eles também são homens, mas em relação a ambos os sexos subsistem sempre expectativas quanto à expressão que se espera deles: expectativas relativas à capacidade, à docilidade, ao domínio, à educação.

Existem muitas expressões – critérios, por assim dizer, que associais a ambos os sexos. Mas também te digo que entendo o que expressaste ao dizeres ser um pai que não deseja assistir à infelicidade dos teus. Mas escuta aquilo que disseste – que não desejas que o teu filho seja infeliz; não desejas que o teu filho sofra. Mas tu estás a contribuir para essa infelicidade e sofrimento. Não que estejas a magoá-lo – porque isso tu não consegues – do mesmo modo que mais ninguém poderá magoar-te a ti!

Se te estiveres a sentir magoado serás tu quem estará a gerar isso no teu íntimo, em relação aos teus princípios e às tuas crenças e às próprias associações que estabeleces. Não é o que o outro indivíduo faça que constitua o objecto da mágoa mas, és tu, do mesmo modo que qualquer outro indivíduo, e do mesmo modo que o teu filho, quem pode gerar expressões e energia que consiga conduzir às dificuldades do outro. Tal como o teu filho está a gerar formas de conduta e a projectar uma energia que serve de condutor para as tuas próprias dificuldades e isso se torna fonte de mágoa. Tu fazes o mesmo.

BILL: Certamente, certamente.

ELIAS: A diferença está em que ele não expressa o desejo de que possas sofrer. Tu referes não desejar que ele sofra, mas se não desejasses isso, porque razão haverias de gerar uma energia que o encoraja?

BILL: Certamente. Eu estou a ouvir. Penso que estou a ouvir.

ELIAS: E as crenças e as associações que são estabelecidas em torno do sexo masculino são bastante vigorosas – tudo o que o sexo masculino deve expressar, tal como aquilo que tu próprio expressaste!

BILL: Pois. “Cabeça erguida. Recompõe-te. Sê responsável”. Eu estou a ouvir, eu estou a ouvir.

ELIAS: Tu expressas isso em termos tanto físicos quanto intelectuais e emocionais. E ele mostra-se aquém e insuficiente.

BILL: Pois, pois. (Pausa)

ELIAS: E isso constitui uma carga considerável para ser passado a qualquer indivíduo.

BILL. É. É, sim. O que eu queria mesmo saber era a participação que tenho nisso e tu estás a revelar-mo.

ELIAS: Mas também encoraja-te, porque, quando passas a dispor de informação e quando o teu desejo de tomar consciência se apresenta tu achas-te capaz de alterar isso. E tu possuis ambos esses componentes.

BILL: Pois. Eu sinto o desejo de tomar consciência mas frequentemente ocorre-me - na semana passada - existir aí temor – não é o temor que eu senti. Sabes, eu senti-me atemorizado mas sou incapaz de me lembrar em relação ao que tenha sido que me tenha de algum modo feito sentir um medo de experimentar ou de expandir mais a consciência...

ELIAS: O que é perfeitamente compreensível porque não se trata dum temor muito usual e para muitos traduz sem dúvida um medo subjacente, um medo que não seja necessariamente exposto com abertura e essa é a razão porque se torna mais difícil para vós defini-lo. Aquilo em que consiste, é num medo de expandir e em consequência de abrir mão, de perder.

BILL: Isso é aquilo a que estou habituado.

ELIAS: Além disso, perder aquilo a que te achas apegado. Mas nesse sentido, quando sentires conseguir definir com mais clareza aquilo que tal perda signifique, isso deixará de se tornar objecto de temor. Porque, a generalização em relação ao medo da perda refere que, se tu expandires a consciência que tens e te achares intimamente voltado para ti próprio e estiveres genuinamente a prestar atenção a ti próprio tu possas perder o contacto e a interacção com os aqueles que valorizas e que te são próximos. Isso não é válido nem está correcto. A perda real é a de que não venhas a poder expressar mais esse apego, mas esse apego traduz a verdadeira expressão do que não queres! (Com ênfase) Tal como acontece com o teu filho. O apego consiste na luta – o que traduz precisamente aquilo que não desejas. Não é o medo de perder o indivíduo, é o medo de perder o apego que foi estabelecido em relação a ele. Em termos figurativos, tu podes visualizar esse apego como uma corda muito pesada que tenhas atado ao teu redor e ao redor do outro enquanto ambos continuam a puxar em sentido contrário. Só que essa corda é forte e por demais familiar. Parece-te que a corda vos esteja a ligar quando, na verdade, se removeres a corda passará a existir uma ligação mais forte.

BILL: Ah! E eu consigo isso se me focar em mim próprio...

ELIAS: Sim! E por meio da percepção das tuas escolhas – não das escolhas dele, mas das tuas. E nesse sentido, adopta um reconhecimento dos teus princípios e poderás mesmo perceber as escolhas e os comportamentos que ele elege e aqueles comportamentos e escolhas com que estás em desacordo ou de que não gostas; move a tua atenção para ti e avalia que tipo de escolhas poderás adoptar que te voltem numa direcção diferente e que te possibilite deixares de te preocupar com as dele.

BILL: Pois. Provavelmente isso...Eu entendo o termo “preocupação”, mas deixar de me preocupar com as escolhas dele parece um mistério e tanto, e no entanto é um mistério através do qual estou a tentar reivindicar isso tudo...

ELIAS: Permite que te diga, meu amigo, que quando te preocupas com as escolhas e as condutas dum indivíduo tu estás a encorajá-los; quando deixas de te preocupar com as escolhas e condutas do outro tu passas a encorajar uma energia de apoio, porque quando te preocupas, a energia que projectas é dum tipo que expressa: “Tu estás errado; tu não és suficientemente capaz nem indicado e estás errado.” Por isso trata-se duma formidável depreciação.

BILL: (Suspira) Oh ó. Pois. Porque isso faz valer todos os hábitos enraizados. É como... Se esta onda emocional tivesse surgido para nos desgastar a valer, como nenhuma outra, em termos de conflito e confusão...

ELIAS: Mas eu dir-te-ei, meu amigo, do mesmo modo que tenho dito a outros, que este constitui o maior de todos os barcos e que se encontra superlotado. (Ri)

BILL: (Acompanha o ELIAS no riso) Então disponho de muita companhia, não é o que estás a dizer?

ELIAS: Muita, mesmo.

BILL: (Ri com espontaneidade) Penso que seja isso que o ditado quer dizer quando refere que “Uma desgraça nunca vem só”. (Nota do tradutor: Cujo sentido não refere exactamente o mesmo que a versão do original Inglês: “Misery loves company”) (ELIAS ri)

Não sei se isso me fará sentir suficientemente melhor em meio à tristeza que sinto mas possivelmente faz, (ELIAS ri) com tudo o que está a ocorrer... É há muitos que estão a debater-se com muitas destas coisas neste momento.

ELIAS: Esta onda é relativa à comunicação sob todas as formas, e por isso vós estais todos a apresentar a vós próprios as vossas dificuldades que tendes com as vossas comunicações; as vossas próprias, as dos outros, as comunicações das massas, as comunicações provenientes das criaturas - não importa de que tipo possa ser.

BILL: Pois. Existirá alguma... Isso deve ser a razão porque esta... Mais do que as outras, mas como tu disseste, parece tratar-se dum barco que se encontra repleto de gente.

ELIAS: Eu dir-te-ei que as pessoas estão individualmente a experimentar esta onda em particular com bastante intensidade a nível global; não são só aqueles que conversam comigo.

BILL: Não, eu percebo isso naqueles com quem me envolvo, pessoas conhecidas. Mas, para voltar um pouco ao tema do medo, queria dizer-te que tenho tido uns sonhos recorrentes - basicamente são só sonhos que tendo a ter - em que me encontro de férias como numa terra distante, bastante exótica também, mas a questão que esses sonhos me apresentam prende-se com a dificuldade e a preocupação que sinto por regressar ao lar, seja por meio de avião, comboio, ou de barco, todos os meios de transporte; eu sinto-me nervoso só de pensar em regressar ao que é conhecido, da terra onde me encontro de férias, e interpreto isso cá para comigo como uma preparação para essa expansão da consciência por meio da qual eu perco o contacto com o lar e se eu o estou a interpretar de forma correcta isso parece estar relacionado com o que me revelaste. Estará isso correcto?

ELIAS: Está. Mas está igualmente associado à identidade, porque nisto, aquilo que te é familiar é o apego que experimentas em relação à tua identidade individual e que se acha relacionado com as experiências que tiveste, e com o que te foi incutido e com o que aprendeste. Esses factores na verdade não se encontram aparte em relação à tua identidade; eles não traduzem aquilo que és, mas o que te foi incutido, o que aprendeste e o que experimentaste - tudo o que fizeste. Não perfazem o indivíduo que és. Mas, sim, inicialmente isso pode tornar-se opressivo, e enervante, e desanimador, e até mesmo objecto de temor, por se tratar dum movimento no sentido do teu “eu” genuíno – não do que tenhas feito, nem do que se esperava que tivesses feito, nem tampouco do que seja esperado que faças ou deixes de fazer, mas no sentido de quem és realmente. (Pausa)

BILL: E aquele que eu sou é independente do “fazer” – da acção. Não independente - quer dizer, não se acha dissociado - mas esse “fazer” não representa aquele que Eu sou. Será isso que estás a dizer?

ELIAS: É.

BILL: Ufa. Deixa cá ver se existirá mais alguma coisa aqui neste monte... (Elias ri) Que escutei até agora... Tenho umas quantas perguntas... Esta dança que eu faço em torno da questão do dinheiro, em termos da minha procrastinação (tendência para o adiamento) e do pagamento de contas e tudo o que gira em torno disso, a custear-me e tudo parece... E aquilo a que isso se assemelha é um outro género de medo.

ELIAS: Eu diria que talvez não exista um elemento de temor aí mas parece-se mais com um tipo de ressentimento.

BILL: Pois, eu também sinto isso. Parece-se com um relacionamento amor e ódio que eu gostaria que se esvaísse, por não termos de lidar com ele – é sobre isso que estás a falar?

ELIAS: Eu diria que tu incorporas uma associação com o sentido de possessão. Se o possuíres, a coisa passa a pertencer-te. E, se te passa a pertencer, tu devias ter a capacidade de fazer aquilo que queres com aquilo que possuis, sem que precisem dizer-te ou ditar-te o que devas fazer com o que é pertença tua. E isso aplica-se igualmente à questão do dinheiro. Como te pertence, aquilo que hás-de fazer com ele deve proceder da tua escolha. E tu ressentes-te da associação que estabeleces em relação a teres que fazer com ele aquilo que os outros te ditam. E essa associação é bastante vigorosa e aplica-se em muitas direcções e não somente no que diz respeito ao dinheiro.

BILL: Tens alguma sugestão a fazer em relação a um outro sentido em que eu esteja a aplicar o mesmo?

ELIAS: Em qualquer direcção que envolva o que percebes com uma posse tua. Se te pertence, ou se percebes pertencer-te – o que se aplica igualmente a outros indivíduos; a tua companheira pertence-te; os teus filhos constituem uma pertença tua...

BILL: Pois, inconscientemente dá-se o caso...

ELIAS: Eu compreendo mas, isso é exibido através daquilo que fazes.

BILL: Por meio dum milhão de diferentes modos em que o posso fazer.

ELIAS: Correcto. E pelo modo como o fazes.

BILL: E como hei-de diminuir a isso - o que sugeririas em termos de diminuir a associação relacionada com o sentimento que tenho do que me pertence?

ELIAS: O primeiro passo consiste apenas no reconhecimento do facto de gerares uma associação em termos de posse, permitindo-te desse modo uma avaliação genuína e uma validade disso. “Será que isto realmente me pertence? Ou não? E em caso negativo, que será que percebo que constitua uma ameaça, se de facto não me pertence?”

BILL: Isso parece estar enraizado em mim no que toca aos meus filhos assim como em relação à minha mulher e a tudo o mais.

Eles pertencem-me e devem... (Ri) Pois, pois.

ELIAS: Está. Concordo... Mas eles não te pertencem.

BILL: Não, eu sei. Quer dizer, conscientemente, na esfera do pensar, tenho consciência disso. Isso suscitou uma pergunta que me esqueci de te colocar antes, que é a de que eu entendo que o pensamento constituir um meio de interpretação, mas por vezes fico confuso ao estabelecer a distinção entre o pensamento e o pensar – existirá alguma diferença entre ambos? Ou será o pensamento que constitui o intérprete por o usarmos de modo inadequado ao nível consciente por meio do pensar e do conversar?

ELIAS: Isso deve depender da altura e do indivíduo em questão, mas, enquanto mecanismo interpretativo, sim, pode existir uma diferença entre o pensamento repetitivo e as ideias.

BILL: Nesse caso as ideias constituem o pensamento, não?

ELIAS: Sim, mas são inspiradas por outros tipos de comunicação.

BILL: E o pensamento constitui uma interpretação da ideia?

ELIAS: Constitui.

BILL: Não é que a ideia em si mesma... Que o pensamento ainda se ache a operar ao interpretar a ideia, em termos de palavras e de pensamento.

ELIAS: Sim.

BILL: Muito bem, isso faz para mim todo o sentido...

Eu sei que todos te pedimos métodos e que os métodos parecem reduzir-se a fazer isto e mais isto para que aquilo aconteça, e realmente, em termos do propósito que me assiste - de traduzir o complexo em termos de simplicidade - parece-me existirem uns quantos aspectos que são críticos em todos os métodos que as pessoas pediram, por as acomodar, e um deles é o da confiança e outro será o da aceitação e o do apreço. Isso parece fundir-se nessas três coisas. Dirias que a confiança, a aceitação e o apreço serão os mais críticos ou... Não existirá um que impere em termos de prioridade, não existirá uma via mais fácil para toda esta coisa que gira em torno do pensar, do fazer isto e do fazer aquilo?

ELIAS: Correcto. Mas existe...

BILL: Esses três aspectos parecem-me demasiado opulentos, quer dizer, não poderemos criar aquilo que queremos sem precisarmos aceitar?

ELIAS: Podes. Não com tanta facilidade, além de poder levar muito mais tempo, mas podes sim.

BILL: E sem confiança – poderemos fazer alguma coisa sem termos confiança?

ELIAS: Podeis. Mas em termos gerais, em muitas situações, haveis de sentir muito mais dificuldade. (O tempo termina)
...

Dedico esta transcrição, num acto de homenagem póstuma, ao falecido Dr. António Pinto, de saudosa memória.

Obrigado Elias, Mary e Bill pela partilha deste material tão actual e válido.

O tradutor


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